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Professora da UFSB lança livro sobre revolução nas artes visuais

  • Publicado: Terça, 29 de Novembro de 2022, 11h09
  • Última atualização em Terça, 29 de Novembro de 2022, 15h01
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livro fechadoA professora Alessandra Simões Paiva, docente nos cursos Bacharelado e Licenciatura Interdisciplinares em Artes e suas Tecnologias e no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais, no Campus Jorge Amado, lançará no dia 9 de dezembro, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em São Paulo, o livro A virada decolonial na arte brasileira, pela Editora Mireveja. Publicado com apoio do Edital PROPPG 07/2022, auxílio à produção científica, o livro trata de uma mudança paradigmática no campo das artes, defendida pela pesquisadora como algo irrefreável.  

Logo na abertura de A virada decolonial na arte brasileira, a professora Alessandra garante haver uma revolução em curso no campo das artes. E os fatos e tendências que apresenta em seu livro não deixam dúvida – em dez artigos, fruto de pesquisas registradas na PROPPG, a autora esquadrinha o fenômeno da decolonialidade nas visualidades, destacando obras e artistas de grupos sociais historicamente minorizados que estão se tornando vanguarda. Se as iniciativas que vêm sendo projetadas na esfera federal envolvendo os povos originários, as pessoas negras, as mulheres, a população periférica tencionam mudanças estruturais em nossa sociedade, o livro mostra que na arte essa construção avança de forma avassaladora.

Segundo Alessandra, o movimento decolonial indica uma grande mudança de paradigma na arte produzida no Brasil e no mundo, acompanhada de uma urgente necessidade de reparação histórica diante do apagamento de experiências e memórias desses grupos, que estiveram sempre à margem do sistema da arte.  Em seu livro, ela ressalta nomes como Denilson Baniwa, Kássia Borges, Coletivo Kókir, Ventura Profana, Paulo Nazareth, Renata Felinto, Aline Motta, Jota Mombaça e Castiel Vitorino, além do indiscutível legado de Jaider Esbell. São artistas cujas poéticas enfatizam questões ligadas a raça, etnia, classe, gênero e geopolítica.

Além de artistas relevantes na contemporaneidade, o livro traz as bases teóricas do pensamento decolonial. No texto A visão decolonial nas artes a partir de dois artigos antológicos de Walter Mignolo, por exemplo, Alessandra apresenta esse que é um dos nomes fundamentais para se discutir esse pensamento na América Latina. Fundador do grupo Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade (MCD), criado no final dos anos 1990, Mignolo têm dois artigos destrinchados pela autora. É, aliás, com o MCD que nasce o termo “decolonizar”, hoje amplamente usado no Brasil, em contraposição a “descolonizar”.

A partir da teoria e de exemplos reais, Alessandra destaca, no entanto, que ainda há muito a ser feito para que toda essa mudança se consolide: “O fato é que, embora esses artistas estejam abrindo cada vez mais espaço em museus e galerias, eles continuam sendo distanciados das posições de poder e decisão. Ainda hoje, os curadores e diretores de instituições ligadas à arte são predominantemente pessoas brancas”, explica a autora.

bio aleHá casos emblemáticos de resistência por parte das instituições. Um deles é o do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), fundado em 1947, que contratou suas primeiras curadoras negras, Horrana de Cássia e Amanda Carneiro, apenas em 2018. E que teve sua primeira curadora indígena, Sandra Benites, somente em 2019. “São mudanças tardias. Mas esse é um processo irrefreável”, alerta Alessandra, lembrando que nos últimos dias o museu paulistano anunciou a contratação de mais três curadores de mais três curadores adjuntos indígenas: Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá.

No bojo dessa discussão, entram também alguns temas que estão em alta, tais como o conceito de lugar de fala, introduzido pela pesquisadora Djamila Ribeiro no Brasil. Para tratar dele, Alessandra destaca a trajetória de dois artistas brancos e decoloniais, Adriana Varejão e Luiz Zerbini. “Questões como estas representam o que considero a primeira etapa de minha pesquisa sobre a decolonialidade. A proposta é desdobrar minhas indagações para outros patamares mais complexos, durante estágio de pós-doutoramento que deve se iniciar no início de 2023. Entre os pontos que pretendo abordar de forma mais aprofundada, estão as relações entre os modos de operar da arte contemporânea ocidental e da arte decolonial, a questão da identidade e seu lugar na estética e o paradoxo entre política e cooptação no sistema da arte", afirma a autora, que enfatiza a importância do suporte institucional da UFSB ao longo de sua trajetória. "Viver em um território expressivamente marcado pelas comunidades indígenas, afro-diaspóricas e agroecológicas também tem sido uma experiência altamente impactante para minhas análises sobre a arte”.

Com um projeto gráfico singular, assinado pela designer Cintia Belloc, o livro traz em sua capa o grande painel artístico de Denilson Baniwa, um dos mais renomados artistas indígenas contemporâneos, intitulado “O sopro do maliri”. A obra se distribui não só na parte externa do livro, como é habitual, mas também na parte interna da capa e orelhas, permitindo que leitor aprecie integralmente esse trabalho de Baniwa ao manipular o livro. O livro foi cuidadosamente elaborado pela editora Mireveja, que tem se dedicado a edições na área de literatura, política, história, fotografia, direitos humanos, gastronomia, cultura, entre outros assuntos, que estimulem a reflexão crítica.

A professora Alessandra atua como crítica de arte há 25 anos. Depois de uma década escrevendo sobre artes visuais na grande imprensa e nos meios especializados, partiu para a carreira acadêmica, mantendo sempre a prática da escrita de forma bastante assídua. Atualmente, é docente nos Cursos Bacharelado e Licenciatura Interdisciplinares em Artes e suas Tecnologias e no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais, no Campus Jorge Amado. Desde 2019, é coordenadora de Gestão da Extensão na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEX). Alessandra integra a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), a Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP), a Rede Europeia de Brasilianistas de Análise Cultural (REBRAC). É pesquisadora nos grupos Recepção Estética e Crítica de Arte (USP) e Pesquisas Avançadas em Materialidades, Ambiências e Tecnologias (UFSB, coordenação Guilherme Foscolo, https://www.imagenlat.org/). Em 2012, ganhou o Prêmio Jovem Crítica, AICA.

 

 

Com texto e informações de Alessandra Simões

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