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Artigo apresenta dados de potencial de composto químico contra leishmanioses

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Terça, 17 de Agosto de 2021, 17h04 | Última atualização em Terça, 17 de Agosto de 2021, 17h46 | Acessos: 2770

fotos projeto p. Heleno WhatsApp Image 2019 07 08 at 15.00.21Uma pesquisa de iniciação científica contribuiu para o entendimento do potencial de uma espécie vegetal para combater uma espécie do parasita causador de uma das formas de leishmaniose. O artigo Leishmanicidal Activity of the Volatile Oil of Piper macedoi, publicado na Revista Brasileira de Farmacognosia, é assinado por Victor N. dos Santos (Centro de Formação em Ciências da Saúde/UFSB), Gisele L. de Oliveira (CFCS/Programa de Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Biodiversidade/UFSB), Davyson L. Moreira (Departamento de Produtos Naturais/Fiocruz), Rodrigo G. de Deus (Centro de Formação em Ciências da Saúde/UFSB), Raquel M. de Almeida (Departamento de Parasitologia/ICB/UFMG), Ricardo T. Fujiwara (Departamento de Parasitologia/ICB/UFMG), Lúcia P. S. Pimenta (Departamento de Química/ICE/UFMG), Sebastião R. Ferreira (CFCS/PPGSAB/UFSB). 

O artigo apresenta o resultado de testes laboratoriais in vitro do óleo extraído da espécie Piper macedoi, planta que é conhecida popularmente pelos nomes de falso-jaborandi ou "pimenta de macaco" para matar parasitas da espécie Leishmania infantum, causadores das leishmanioses. O trabalho descrito é parte da trajetória do estudante Victor Neves dos Santos na graduação na UFSB e traz dados que corroboram outras pesquisas realizadas pelo grupo de cientistas na procura por um novo fármaco que seja eficiente contra a leishmaniose e que não seja tão tóxico para o organismo humano como os medicamentos atualmente em uso, que causam fortes efeitos colaterais como vômitos, dores nas articulações, inflamações no fígado, no pâncreas, disritimias cardíacas, intoxicação dos rins e hipocalemia (baixa quantidade de potássio na corrente sanguínea).

Conforme o professor Sebastião Rodrigo Ferreira, que integra a lista de autores do trabalho, o projeto de pesquisa com Piper macedoi começou em 2018, e ainda está em andamento, com o artigo sendo uma das partes preliminares do projeto. Os estudos estão ligados à linha de pesquisa de Bioprospecção, que é coordenada conjuntamente por ele e a professora Gisele Lopes no Campus Paulo Freire da UFSB, em Teixeira de Freitas. Segundo o professor Rodrigo, "ainda temos um longo caminho pela frente". O campo de pesquisa em bioprospecção envolve investigar variados tipos de elementos, como compostos químicos, genes e enzimas, dentre outros, tanto de origem vegetal quanto animal e que tenham potencial farmacológico e econômico para a geração de novos produtos. Nessa busca, é concebível pesquisar uma planta que tradicionalmente se usa para aliviar ou curar uma enfermidade para identificar elementos que podem fazer parte do desenvolvimento de um novo remédio. 

O principal resultado é que um extrato da "pimenta de macaco" teve capacidade leishmanicida, ou seja, matou os parasitas na sua forma amastigota (forma evolutiva do parasita que causa a doença), em nível suficiente para ser eficaz em um futuro tratamento. A leishmaniose é transmitida pela picada do mosquito-palha, momento em que o parasito é introduzido no homem pelo inseto. Uma vez no organismo humano, a forma infectante do L. infantum contamina os macrófagos, as células do organismo humano que atuam nas primeiras respostas do sistema de defesa. Testar o composto contra a forma infectante do parasita é um diferencial do estudo realizado. Outro atributo mensurado no estudo foi a citotoxicidade, ou o efeito tóxico que a substância causa nas células, um dos motivos dos efeitos colaterais dos remédios. No caso, o óleo de Piper macedoi teve citotoxicidade menor que o medicamento de referência para leishmaniose, indicando que provocaria menos efeitos colaterais. O professor Rodrigo explica que ainda é uma fase inicial da pesquisa: "mesmo sendo um resultado promissor, ainda são resultados iniciais e há muito o que compreender da farmacologia. E sim, mais estudos são possíveis para tentar reduzir a toxicidade do óleo".

Dentre os próximos passos estão o planejamento de um estudo em seres vivos, com o emprego de modelos animais. O professor Rodrigo afirma que há diversas etapas para cumprir antes de se poder apresentar um novo remédio. "Para pensar no óleo como um possível medicamento ainda há um longo caminho, a começar pelos estudos em modelos animais para confirmar a atividade in vivo e estudos sobre vias de administração e segurança", detalha.

 

O trabalho nos bastidores da ciência

fotos projeto iCloud Photos IMG 0127Conforme o jovem pesquisador Victor Neves dos Santos, egresso do BI em Saúde e atualmente cursando Medicina, o chamado da pesquisa soou para ele antes da vinda para a UFSB. "Tive meu primeiro contato com a pesquisa na minha graduação anterior, onde pude participar como voluntario no Laboratório de Farmacologia Molecular da UnB. Lá pude observar como a ciência é feita. E desde que entrei na UFSB busquei por projetos que me chamassem atenção e eu pudesse retornar para área", conta Victor. 

O caminho foi a iniciação científica, durante a qual Victor conseguiu se reaproximar da pesquisa - e dos percalços que essa atividade enfrenta no Brasil: "Dentre os desafios que encontrei para desenvolver a pesquisa, a falta de estrutura e materiais foram os maiores. É compreensível visto que a UFSB ainda é uma universidade nova. Contudo, graças a parcerias com outras instituições como a UFMG, FioCruz e ao empenho do professor Rodrigo e da professora Gisele, foi possível dar continuidade ao projeto". Devido à necessidade de equipamentos e infraestrutura de pesquisa ainda não disponível na UFSB, as equipes nas instituições parceiras fizeram uma divisão de tarefas: a coleta da planta, extração do óleo foram realizadas na UFSB, os testes de atividade sobre a leishmania e citotoxicidade na UFMG e as análises de cromatografia gasosa, na Fiocruz, no Rio de Janeiro.

O projeto desenvolvido incluiu a ida de Victor ao laboratório da UFMG para a realização de testes, com a orientação dos cientistas co-autores da investigação. A conexão do projeto na área de bioprospecção com o tratamento de doenças é um dos fatores que o motivou a cada momento: "A pesquisa me motivou a valorizar ainda mais o trabalho que é realizado nos bastidores da saúde, não só por profissionais diretamente ligados a saúde, mas também por todos os outros que se empenham em buscar novas técnicas, métodos, aparelhos, medicamentos e etc. Aqui é possível ver que, independente de todo o avanço técnico na medicina, ela não teria chegado tão longe sem a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos", conclui Victor.

O esforço de pesquisar com poucos recursos é constante, afirma o professor Rodrigo, o que tende a afetar especialmente a pesquisa de novas drogas para tratar certos tipos de enfermidades, como as Doenças Tropicais Negligenciadas, dentre as quais estão as leishmanioses. Por serem enfermidades que afetam especialmente populações em situações de miséria e sem saneamento básico, tendem a não atrair o interesse da indústria farmacêutica.

A situação atual de redução do investimento em pesquisa no Brasil agrava as complicações. "O financiamento sem dúvida é o ponto mais crucial para o entreve da pesquisa" - diz o professor Rodrigo. "Sem recurso, fica muito difícil a realização das atividades, os experimentos necessitam de regentes, que, na maioria das vezes, são caros; precisamos de recursos para realização de viagens/estada, quando fazemos experimentos fora. Por não ser uma pesquisa de uma doença de interesse comercial, o financiamento público é essencial e praticamente a única fonte". O cientista conta que no momento o grupo busca apoio para construção de um núcleo de pesquisa em biotecnologia aplicada no Campus Paulo Freire, com um dos focos sendo justamente o desenvolvimento de fitomedicamentos para diversas doenças, inclusive as negligenciadas.

 

 

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