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Pesquisa analisa potencial de planta da Mata Atlântica para tratamento da leishmaniose

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Quarta, 24 de Julho de 2019, 17h21 | Última atualização em Quinta, 25 de Julho de 2019, 16h18 | Acessos: 7861

A riqueza da flora nacional é tanta que nela se pode encontrar várias espécies de vegetais que fornecem alimento, tempero e remédio. Uma das investigações científicas apoiadas pelo Programa de Iniciação à Pesquisa, Criação e Inovação (PIPCI) em 2018 busca encontrar um fármaco eficiente e com menos efeitos colaterais para tratar a leishmaniose visceral, uma das Doenças Tropicais Negligenciadas que mais afeta populações de baixa renda no mundo - e para as quais há mais necessidade de remédios.

O trabalho consistiu na bioprospecção, que pode ser entendida como a pesquisa por diversos tipos de elementos (como compostos químicos, genes e enzimas, por exemplo) de origem vegetal e animal que tenham potencial econômico para fazer parte de produtos. É uma atividade que pode ter ligação com saberes tradicionais: o uso popular de folhas de uma planta para tratar uma enfermidade é um indício para uma pesquisa que pode resultar na criação de um novo medicamento, por exemplo. 

O professor Sebastião Rodrigo Ferreira, do Campus Paulo Freire (Teixeira de Freitas), contribuiu com informações sobre os objetivos e o status da pesquisa que coordena junto com a professora Gisele Lopes de Oliveira. O plano de trabalho Bioprospecção de compostos de plantas da Mata Atlântica com potencial para aplicação no tratamento das leishmanioses foi contemplado com uma bolsa de Iniciação Tecnológica (IT) no edital gerido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG/UFSB) em 2018.

 


De que trata a pesquisa?

fotos projeto p. Heleno WhatsApp Image 2019 07 08 at 15.00.21O projeto trata da busca de novos fármacos (princípios ativos) para tratamento das leishmanioses a partir do falso-jaborandi ou "pimenta de macaco", de nome científico Piper macedoi, uma planta da família Piperaceae, gênero PiperNão há estudo algum sobre o uso da espécie Piper macedoi; entretanto, uma planta do mesmo gênero (Piper aduncum) é muito usada na medicina popular para diversas aplicações: adstringente, tratamento da febre malária, para tratamento de gonorréia e leucorréia (corrimento vaginal) e até mesmo como repelente de insetos. A identificação correta das espécies é feita por botânicos, então as pessoas, de um modo geral, confundem as duas quando vão usar o nome popular.

A planta conhecida como "pimenta de macaco": potencial em estudo 

O professor Rodrigo conta que, geralmente, o desenvolvimento de fármacos para Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) não é foco das grandes indústrias do setor farmacêutico. Portanto, a pesquisa tem objetivo de contribuir na geração de produto para o tratamento das leishmanioses, o que no futuro poderá ajudar na oferta de um medicamento de qualidade nos serviços de saúde. É importante ressaltar que aproximadamente 80% dos fármacos disponíveis hoje no mercado têm origem a partir de produtos naturais, embora o processo de produção deles seja a síntese química. 

 

 

Qual a contribuição dos resultados obtidos no plano de trabalho para o avanço do projeto?

Já está verificado que o óleo essencial da planta e os extratos orgânicos (obtidos com acetato de etila e diclorometano) foram ativos contra amastigotas de Leishmania infantum (espécie de  protozoário causador da leishmaniose visceral, a forma mais fatal desse tipo de enfermidade). A forma amastigota é a forma que causa a doença, por isso a relevância do resultado.

 

Como foi feita a pesquisa?

fotos projeto p. Heleno WhatsApp Image 2019 07 08 at 15.00.01 1

 O interesse em trabalhar com esta planta veio de uma parceria com a professora Gisele Lopes de Oliveira (também professora do CPF), que já vem estudando o potencial farmacológico das plantas da família Piperaceae.

O óleo essencial foi obtido por meio de hidrodestilação e os extratos com solventes orgânicos. Depois, o óleo e os extratos foram testados sobre amastigotas (forma evolutiva causadora da doença) de Leishmania. No processo de entrada do Leishmania infantum no corpo humano, a forma infectante é transmitida pela picada do inseto (mosquito-palha) e parasita os macrófagos, que são células do organismo humano que atuam nas primeiras respostas do sistema de defesa. As amastigotas parasitando macrófagos foram colocadas em contato com os fármacos e após 48 horas a taxa de multiplicação das amastigotas foi medida por meio de espectrofotômetro do tipo leitor de ELISA.

Cromatografia em camada delgada para análise
do perfil de substâncias contidas nos extratos da planta

Um diferencial do estudo realizado pela equipe é o teste dos compostos sobre a forma causadora da doença. O professor Rodrigo conta que muitos estudos são realizados sobre as formas promastigotas, formas evolutivas encontradas no inseto vetor e que não causam a doença: "Quando os resultados são transpostos de um modelo ao outro, se descobre que o fármaco não é ativo", ou seja, não trata a leishmaniose.

 

 

Qual a importância da pesquisa?

A importância reside no potencial da pesquisa para o desenvolvimento de princípio ativo e de medicamentos para tratar e controlar as leishmanioses. Os fármacos disponíveis atualmente para tratamento são de elevada toxicidade e causam muitos efeitos colaterais, como vômitos, artralgia (dores nas articulações), hepatite, pancreatite, disritmias cardíacas, nefrotoxicidade (intoxicação dos rins) e hipocalemia (baixa quantidade de potássio na corrente sanguínea), além de serem de difícil administração.

 

O que os resultados indicam/informam?

Os estudos ainda estão em fases iniciais, explica o professor Rodrigo, indicando que no momento os resultados parciais da pesquisa apontam que os extratos obtidos com diclorometano e acetato de etila e o óleo essencial matam os protozoários. Há estudos em andamento para verificar a toxicidade dos extratos - afinal, é importante que o fármaco seja ativo contra os organismos causadores da doença e que também seja o menos tóxico possível para o organismo humano. Outros estudos relacionados se dedicam a caracterizar os componentes químicos presentes nos extratos e no óleo. Os estudos estão sendo realizados em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) por meio de parcerias, com intermediação dos professores Sebastião Rodrigo Ferreira e Gisele Lopes de Oliveira. 

 

fotos projeto iCloud Photos IMG 0127

 

 

Equipe responsável pela pesquisa:

Prof. Dr. Sebastião Rodrigo Ferreira e Profª. Drª. Gisele Lopes de Oliveira (CPF/UFSB)

Victor Neves dos Santos (bolsista de Iniciação Científica)

Parcerias externas: Prof. Dr. Toshio Fujiwara (Laboratório de Imunologia e Genômica de Parasitos/UFMG) e Profª. Drª. Lúcia Pimenta (Laboratório de Fitoquímica do Cerrado/UFMG) 

 
 
Da esq. para a dir.: Victor, profª Gisele e prof. Rodrigo 
 
 
 
Fotos: acervo do professor Sebastião Rodrigo Ferreira
 
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