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Pesquisa do PPGER resulta em caderno pedagógico de Literatura Negra Feminina

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Terça, 04 de Maio de 2021, 16h04 | Última atualização em Sexta, 07 de Maio de 2021, 16h33 | Acessos: 3138

BANCA DE QUALIFICAÇÃO 02Um projeto desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER) da Universidade Federal do Sul da Bahia colabora para a educação antirracista com um caderno pedagógico de Literatura Negra Feminina. O produto é parte dos requisitos para a conclusão do curso da professora e mestra Luzia Batista, que atua como docente na Educação Básica, e contou com a orientação da professora Maria do Carmo Rebouças da Cruz Ferreira dos Santos. A pesquisa foi concluída com a defesa da dissertação Escrevivências no Chão da Escola: A Literatura Negra Feminina como Práxis da Resistência, ocorrida em outubro de 2020.

Uma vez que o PPGER é um mestrado profissional direcionado à qualificação continuada de professores e tem as relações étnico-raciais como um de seus focos, cada concluinte deve apresentar, além da pesquisa, um produto que seja pensado para contribuir na melhoria de recursos e de práticas de ensino e aprendizagem em suas comunidades escolares com um olhar voltado para o aprimoramento do ensino, podendo servir como inspiração para propostas similares em outras regiões.

A ideia da pesquisa foi inspirada pela literatura criada por autoras negras, no Brasil e no mundo, e pela constatação da ausência da produção de escritoras negras nos livros didáticos de Literatura do ensino fundamental, uma carência que Luzia percebeu em primeira mão no seu trabalho como professora da disciplina. As principais obras empregadas na dissertação são de autoras como Conceição Evaristo, Bell Hooks, Lélia Gonzalez, Ana Célia Silva e Nilma Lino Gomes, dentre outros nomes. São pontos de vista e sentidos que podem ajudar estudantes a entender perspectivas de grupos étnicos diferentes e a perceber como colaborar para eliminar os vieses racistas em suas atitudes e, assim, evitar essas posturas na sociedade.

Para isso, Luzia articulou uma revisão bibliográfica sobre a presença de obras de autoria negra nos livros didáticos de Língua Portuguesa previstos pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) e distribuídos para turmas de 8ª e 9ª ano do Ensino Fundamental a um diagnóstico situacional junto a docentes para saber como essa temática era trabalhada em suas aulas. A partir daí, a pesquisadora e educadora propôs e realizou oficinas com professores. Da análise das demandas e inquietudes e da própria experiência docente é que Luzia decidiu desenvolver o caderno pedagógico, proposto como um subsídio para professores poderem trabalhar com a Literatura Negra com mais interação e dinamismo. O produto final contém recursos pedagógicos, planos de aulas, textos de autoras negras, contos, poesias, sugestões de filmes e documentários.

O tema é sempre importante, como o cotidiano brasileiro não cessa de demonstrar, e a escola pode preparar olhares mais atentos e solidários. Para além da questão antirracista, o caderno facilita o primeiro contato com um universo literário rico e crítico. A representatividade no campo das letras e das artes é parte das referências que se quer mostrar aos jovens negros na composição de uma identidade com auto-estima e energia para contribuir para a melhoria da sociedade e das relações interpessoais e políticas.

A professora Luzia Batista e a professora Maria do Carmo Rebouças da Cruz Ferreira dos Santos falaram mais sobre o caderno e o estudo em contato com a ACS para a UFSB Ciência. 


Do que trata a pesquisa?

A pesquisa propõe a inserção da Literatura Negra Feminina na sala de aula, através da formação continuada das professoras de Língua Portuguesa. A proposta partiu de uma abordagem da questão étnico-racial, mostrando que a Literatura Negra, de maneira geral, e a Literatura Negra Feminina, de maneira particular, podem, a nosso ver, transformar o espaço escolar em um lugar privilegiado para a reeducação da educação antirracista, buscando resgatar a identidade dos jovens, negros em especial. Como produto da pesquisa foi elaborado foi elaborado um caderno pedagógico para o ensino de Literatura Negra Feminina com recursos pedagógicos, planos de aulas, textos de autoras negras, contos, poesias, sugestões de filmes e documentários.

 

Oficina sobre a Liteatura Negra em sala de aula com professoresComo foi feita a pesquisa?

A proposta de intervenção foi a aplicação de sete oficinas que foram ministradas para professoras de Língua Portuguesa nas séries de 8º e 9º anos do Ensino Fundamental II do Colégio Municipal de Porto Seguro, no intuito de oferecer ferramentas para a inserção da Literatura Negra Feminina em suas aulas.
O principal objetivo da oficina foi ampliar os conhecimentos acerca da cultura afro-brasileira, contemplando a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas, e conferir visibilidade à produção literária de escritoras negras, em especial da escritora Conceição Evaristo, que traz uma escrita marcada pela sua condição de mulher negra.

 

 

Qual a importância do tema?

O estudo da Literatura Negra Feminina possibilitará aos professores e professoras acessar obras de autoras negras contemporâneas que instrumentalizarão nossos alunos para a realização das provas de entrada no ensino superior, mas também nos permitirão cumprir o previsto nas diretrizes educacionais brasileiras, no que tange ao respeito à diversidade e aos direitos humanos. O conhecimento do que acontece com sujeitos diferentes de sua realidade e distintos daqueles que lhe foram apresentados durante a formação inicial permitirá que nós professores passemos pelo processo de humanização, o que os tornarão mais aptos a entender e colocar em prática o previsto nas diretrizes educacionais.

 

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA 9

O que os resultados indicam?

Diante das constatações realizadas neste trabalho, torna-se necessária uma (re)discussão sobre a formação inicial e continuada do professor, no que tange à educação étnicorracial e à Literatura Negra Feminina. Mas, antes de se pensar em investimentos na formação continuada, por exemplo, importa motivar esses profissionais para que eles se sensibilizem por novas perspectivas do educar e se proponham a desenvolver uma práxis pedagógica que possa construir uma escola democrática e cidadã.
A discussão e a análise dos dados obtidos através das professoras visaram à obtenção de informações que dessem conta da prática pedagógica atual em relação ao racismo, à diversidade e à formação da identidade de jovens negros presentes nas escolas públicas. Importava saber as estratégias pedagógicas utilizadas no sentido de visibilizar às diferenças e colaborar na construção de uma identidade negra, a qual, infelizmente, tem sido construída de forma distorcida num contexto de racismo biológico, de ideologia do branqueamento e do mito da democracia racial, fora e dentro da escola.

 

Que contribuições os resultados oferecem ou permitem antever?

Posso destacar a contribuição desta pesquisa para uma possível articulação entre a realidade e a dinâmica da práxis pedagógica que hoje se pensa e se realiza para a educação étnico-racial na escola pública, a partir dos depoimentos das professoras participantes da pesquisa, cujas informações constituíram o corpus da investigação. Esses dados indicam a urgência de se desenvolverem iniciativas de natureza político-pedagógica para instaurar uma prática de educação que respeite as diferenças no espaço escolar e se torne mais forte e significativa, a fim de contribuir para uma formação crítica de estudantes negros ou não.
A pesquisa contribuiu para a transformação da realidade na medida em que, juntamente com os professores da Colégio Municipal, foi criado um caderno pedagógico sobre o tema pesquisa que poderá auxiliar os docentes em sala de aula e poderá ser replicado em toda a rede municipal.
Com efeito, por meio do projeto de extensão Jornada do Novembro Negro do PPGER, foi articulado junto à Secretaria de Educação de Porto Seguro a realização de um curso para a rede de docentes municipais sobre Literatura Feminina Negra com base no produto elaborado, a ser ministrado por mim sob a coordenação de minha orientadora.

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