I Seminário Nacional de Etnovivências em Territórios Indígenas debateu crise climática e práticas de bem viver
Etnovivências Indígenas e o Enfrentamento à Crise Climática: caminhos para o Bem Viver que a UFSB trilha de mãos dadas com os povos indígenas do Brasil
Depois de seis meses de preparação, aconteceu, entre os dias 26 e 30 de julho, o I Seminário Nacional de Etnovivências em Territórios Indígenas e o Enfrentamento à Crise Climática, realizado na Reserva Pataxó da Jaqueira, Terra Indígena Coroa Vermelha, por iniciativa do Instituto Pataxó de Etnoturismo e do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), com apoio e participação da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
O evento, que é produto de projeto de extensão financiado pelo MPI, reuniu povos indígenas e convidados de todo o Brasil, que discutiram estratégias de enfrentamento à crise climática e iniciativas de expansão das etnovivências em territórios indígenas, como expressão máxima de um turismo indígena autodeterminado e solidário, alinhado aos princípios do Bem Viver.
Durante uma semana, o seminário congregou mais de 400 pessoas, dentre indígenas, pesquisadores, estudantes, gestores públicos e sociais, e representantes de instituições indígenas e indigenistas. Além do Povo Pataxó, estiveram presentes indígenas dos povos Kuikuro (MT), Guarani (SP), Krenak (MG), Kariri-Sapuyá (BA), Terena (MT), Yawanawá (AC), Maxacali (MG), Tremembé (CE), Fulni-ô (PE), Waiwai (PA), Pataxó Hã-hã-hãe (RJ), Tupinambá (BA), Macuxi (RR), Guarani Kaiowá (SP), Yanomami (AM), Borari (PR), Dessana (AM), Potiguara (PB), entre outros, que compartilharam suas experiências e conhecimentos ancestrais na busca de soluções para as ameaças ambientais dos dias de hoje, que não afetam apenas os povos indígenas, mas a todas e todos nós.
As reflexões e debates foram feitos livremente em plenária, mas principalmente nos dez grupos de trabalho, que aprofundaram as discussões e propuseram encaminhamentos. O GT 4, que foi coordenado pelo professor Altemar Felberg (CFCHS/UFSB) com apoio da professora Luciana Ávila, decana do Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais (CFCHS), se encarregou de, a partir da percepção dos indígenas presentes, co-construir o conceito de etnovivências, enquanto experiências indígenas de sociobioeconomia, que surgem como alternativas possíveis ao modelo predatório de turismo, ensejando práticas de bons conviveres. Após amplo debate e votação, as Etnovivências foram definidas como “a imersão nas experiências e na cultura dos povos indígenas, que provê vida digna em seus territórios e propicia, aos visitantes, conexão com as práticas de Bem Viver”. O professor Paulo Dimas, também do CFCHS da UFSB, coordenou e contribuiu com o GT 10, que buscou identificar os principais riscos e vulnerabilidades em territórios indígenas, tanto em relação a eventos extremos relacionados a mudanças climáticas, quanto a impactos sobre saberes tradicionais, práticas cotidianas e etnovivências compartilhadas. Os resultados dos GTs serão compartilhados em breve, assim como uma síntese de todo o evento, o que poderá subsidiar políticas públicas para os povos indígenas.
Juari Pataxó, presidente do Instituto Pataxó de Etnoturismo, acredita que a união e a valorização dos saberes indígenas são fundamentais para enfrentar os desafios climáticos e expandir as etnovivências em territórios indígenas. “Destaco o potencial das etnovivências como uma ferramenta para a preservação cultural e ambiental, promovendo um turismo indígena responsável, que respeita e valoriza as tradições dos povos originários. Nesse campo, a Reserva Pataxó da Jaqueira, em Porto Seguro, reafirmou-se como um território de resistência e inovação, onde a sabedoria ancestral encontra soluções para os desafios contemporâneos”.
Em plenária final, ficou deliberado que as próximas edições do seminário serão realizadas: em 2025, na Terra Indígena do Povo Yawanawá, no Estado do Acre; e em 2026, na Terra Indígena dos Tremembé, estado do Ceará. Para ambos os eventos, a USFB empenhou seu apoio, por apostar na ecologia de saberes como caminho para a co-construção de um mundo mais sustentável e inclusivo. Para Juari, “Nós, do povo Pataxó, junto com outros povos indígenas, sonhamos em levar a discussão e desenvolvimento de estratégias para enfrentar a crise climática e expansão do conceito de Etnovivência, a partir dos saberes e práticas ancestrais, para o máximo de territórios possível. Queremos unir os povos originários para seguir promovendo a troca de conhecimentos, a proteção da natureza e a valorização da cultura indígena”, finaliza.
O Seminário atende às metas do Programa de Promoção dos Direitos Pluriétnicos-Culturais e Sociais para o Pleno Exercício da Cidadania e o Bem Viver dos Povos Indígenas, vinculado à Secretaria Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (SEGATI) do Ministério dos Povos Indígenas, ao qual a UFSB é instituição solidária. Além de contribuir com o referido programa, o evento contempla as diretrizes e os objetivos da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (PNGATI), instituída pelo Decreto nº 7.747/2012, e também atende à Política Nacional sobre Mudança do Clima, instituída pela Lei nº 12.187/2009.
Galeria de fotos
Texto: Prof. Altemar Felberg
Imagens: @midia_kartening
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