Comitê Emergencial da UFSB publica 28ª edição do boletim sobre covid-19 no Sul da Bahia
O Comitê Emergencial de Crise da Pandemia de Covid-19 da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) divulgou a 28ª edição do Boletim do Observatório da Epidemia do Novo Coronavírus no Sul da Bahia, na qual apresenta análises do período compreendido entre 03 e 16 de outubro de 2020. Desde a segunda edição especial, a equipe responsável pelo boletim ajustou a periodicidade de semanal para quinzenal, ampliando o recorte temporal sobre o cenário da pandemia de covid-19 no Sul e no Extremo Sul do estado da Bahia. Confira os destaques da edição:
-->Análise do panorama semanal nos municípios do Sul e Extremo Sul:
Em 16/10, do total de 332.898 casos e 7.267 óbitos confirmados na Bahia, 37.967 (11,4% do total) e 893 óbitos (12,3% do total) eram de residentes nos municípios onde a UFSB tem unidade acadêmica e/ou colégio universitário, o que corresponde a um incremento de 1.783 casos e de 46 óbitos em relação ao acumulado (36.184 casos e 847 óbitos) em 02/10. Se nos guiarmos pela média móvel de 2 semanas, observa-se redução de casos e óbitos por COVID-19 no conjunto dos dez municípios.
No intervalo de 02 a 16/10, apenas Ilhéus (24,7%) e Teixeira de Freitas (20,1%) apresentaram variação positiva da incidência; os demais apresentaram variação negativa (número de casos ocorridos na última semana menor do que na semana anterior), com variação média negativa em -26,7%. Entretanto, se nos guiarmos pela média móvel de 2 semanas, observa-se redução de casos de COVID-19 em todos os dez municípios. Quanto à ocorrência de óbitos no intervalo de 10 a 16/10, apenas Eunápolis, Ibicaraí e Itamaraju apresentaram variação positiva no período na comparação com a semana de 3 a 9/10 enquanto Coaraci, Ilhéus, Porto Seguro, Nova Viçosa e Santa Cruz de Cabrália apresentaram variação nula. Se nos guiarmos pela média móvel de 2 semanas, observa-se aumento no número de óbitos apenas em Ibicaraí e Porto Seguro. Quanto ao risco de adoecer por COVID-19, apenas Nova Viçosa (1.600,0 casos/100 mil hab.) apresenta Taxa de Ataque (TA) inferior à média estadual (2.238,3 casos/100 mil hab.) e apenas Porto Seguro (2.253,1 casos/100 mil hab.) apresenta TA superior à média estadual, mas inferior à nacional (2.461,9 casos/100 mil hab.). Os demais municípios apresentam risco de infecção superior à taxa nacional, com destaque para a Região Cacaueira: Itabuna (6.307,0/100 mil hab.), Coaraci (4.378,3/100 mil hab.), Ilhéus (4.300,6/100 mil hab.) e Ibicaraí (4.140,3/100 mil hab.). A Taxa de Ataque no território analisado foi estimada em 3.904,4 casos/100 mil habitantes.
Quanto ao risco de morrer por COVID-19, os quatro municípios da Região Cacaueira – Itabuna (150,1 óbitos/100 mil hab.), Ilhéus (149,7 óbitos/100 mil hab.), Coaraci (141,2/100 mil hab.) e Ibicaraí (124,5 óbitos/100 mil hab.) – apresentam coeficientes de mortalidade (CM) superiores à taxa nacional (72,5 óbitos/100 mil hab.), enquanto Eunápolis (61,7/100 mil hab.) e Teixeira de Freitas (56,1/100 mil hab.) apresentam CM inferior à média nacional, mas superior à média estadual (48,9 óbitos/100 mil hab.). Os demais municípios apresentaram risco de morrer inferior à média estadual. O CM do território analisado foi estimado em 91,8 óbitos/100 mil habitantes.
Quanto ao risco de morrer entre os casos confirmados de COVID-19, apenas Ilhéus (3,5%), Coaraci (3,2%) e Ibicaraí (3,0%) apresentaram Taxa de Letalidade (TL) superior à do Brasil (2,9%), enquanto Itabuna (2,4%) e Nova Viçosa (2,3%) apresenta Taxa de Letalidade superior à média da Bahia (2,2%), mas inferior à do Brasil em 16/10. Os demais municípios apresentaram taxa de letalidade igual (Eunápolis) ou inferior à média estadual. Destaque para a baixa letalidade observada em Itamaraju (1,3%) e Santa Cruz de Cabrália (1,3%).
Trata-se de indicador que pode variar enormemente em razão da capacidade de testagem (quanto mais exames, mais diagnósticos de casos leves e assintomáticos e menor TL), a demografia (quanto mais idosa a população, maior o risco de morte pela Covid-19) e condições de acesso à saúde da população (particularmente em relação aos casos críticos, que exigem manejo clínico em UTI e ventilação mecânica). A TL do território analisado foi estimada em 2,4%. Quanto à disponibilidade de leitos de UTI e taxa de ocupação, não há informação clara sobre o número de leitos de UTI COVID-19 no território nacional. A SESAB informou no dia 16/10 que 430 (48,0%) dos 898 leitos de UTI existentes no Estado estavam ocupados, sendo a taxa de ocupação de 47,0% no caso de leitos adultos e 61,0% no caso de leitos pediátricos, mas ressalte-se que leitos têm sido fechados pela SESAB. Informou-se uma Taxa de Ocupação de 64,0% na Região Sul e de 46,0% no Extremo-Sul. O recomendado é que se mantenha abaixo de 70% para que se possa flexibilizar as medidas de isolamento social.
Veja mais detalhes e gráficos sobre o período observado no boletim.
-->Recomendações para a região:
O monitoramento da epidemia no Brasil permite observar redução de -17,2% na incidência e redução de -18,2% da mortalidade nas duas últimas semanas em relação às duas anteriores (completando quatro semanas seguidas de decrescimento de novos casos e óbitos). O monitoramento da epidemia no Estado da Bahia permite observar redução de -8,8% no número de casos e de -36,2% na ocorrência de óbitos nas duas últimas semanas em relação às duas semanas anteriores. Nos municípios acompanhados por este Observatório, observa-se redução de casos de COVID-19 em todos os dez municípios e aumento no número de óbitos apenas em Ibicaraí e Porto Seguro, se nos guiarmos pela média móvel de 2 semanas. Entretanto, ainda não se pode considerar a epidemia sob controle seja qual for o critério, menos exigente (até 5 casos novos/dia/100 mil hab.) ou mais exigente (1 caso/dia/100 mil hab.).
Recomenda-se aos governos cautela na flexibilização das medidas de redução de fluxo de pessoas e da oferta de leitos de UTI, e máxima transparência na divulgação das informações relativas à epidemia e à capacidade do SUS de atendimento à população (número de leitos clínicos e de UTI para Covid-19 disponíveis e ocupados). Em verdade, os municípios não têm como controlar a pandemia isoladamente, mesmo adotando políticas responsáveis, pois há ações que precisariam ser regionais, estaduais e interestaduais se quisermos que sejam efetivas.
Recomenda-se aos médicos muita cautela na prescrição da cloroquina ou da hidroxicloroquina, tendo em vista o risco de efeitos colaterais graves (principalmente arritmia cardíaca) se em associação com um macrolídeo (azitromicina).
Recomenda-se a todos os indivíduos a manutenção das medidas de higiene, do auto-isolamento domiciliar e a utilização de máscaras faciais (caseiras) sempre que precisar sair de casa.
-->Mapeando Iniciativas de Enfrentamento:
---- No dia 16 de outubro teve início os encontros semanais dos “Seminários Interdisciplinares sobre a COVID-19”, cuja proposta central é conhecer mais sobre a pandemia do novo coronavírus, analisando aspectos relacionados à saúde e o impacto da doença no cotidiano. As sessões configuram-se como aulas temáticas, ministradas por professores(as) da UFSB que, a partir de suas respectivas áreas de atuação, analisam a pandemia, o novo coronavírus e o impacto da pandemia no futuro. Coordenado pela professora Camila Calhau (IHAC/CJA), trata-se de um curso de extensão que também é ofertado como Componente Curricular Livre para a comunidade acadêmica da UFSB. Os seminários acontecem online todas as sextas-feiras até o início de dezembro, sempre pela manhã (10h às 12h). Confira a programação abaixo.
Os Seminários podem ser acessados pelo link: https://meet.google.com/rva-hnwt-cyw
---- A oitava sessão do Ciclo Internacional “Saúde com Arte no Desafio da Pandemia” fará sua quinta roda de conversa online na próxima sexta-feira (23/10) a partir das 14h. Resultado de ação conjunta entre a UFSB e o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (Portugal), o evento terá a participação da professora, pianista e concertista Beatriz Salles (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da professora e investigadora Marília Veríssimo Veronese (Unisinos). As rodas de conversa, quinzenais, são organizadas pela professora Raquel Siqueira (Grupo de Pesquisa Saúde Coletiva, Epistemologias do Sul e Interculturalidades/UFSB) e Susana Noronha (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra/NECES).
Link para acesso: https://meet.google.com/gqg-tzhx-rmj
--> Orientações para prevenção:
Nesta edição, a equipe do Observatório trata das implicações médicas e éticas em considerar a "imunidade de rebanho" como estrtégia de enfrentamento da pandemia de covid-19. Conforme o boletim, há diversos problemas com essa proposta, como o fato de ainda não se dispor de uma vacina comprovadamente eficaz, dentre outros aspectos científicos e éticos.
"Existem vários problemas com essa estratégia. A imunidade só poderia ser adquirida após os indivíduos serem expostos a doença e se recuperarem ou após serem vacinados. Como ainda não possuímos vacina para a COVID-19, para que a imunidade de rebanho fosse numericamente atingida, seria necessário afrouxar medidas de prevenção para permitir livre circulação do vírus. Ao permitir o livre contágio, muitas pessoas manifestariam sintomas graves da doença, precisando de internação hospitalar, de leitos em Unidades de Terapia Intensiva e/ou evoluiriam para óbito.
Segundo Campos (2020), as principais vítimas seriam aquelas mais vulneráveis e que mais estão expostas ao contágio social, como moradores da periferia e subúrbios, pessoas que utilizam transporte público, trabalhadores que atendem ao público, como comerciantes e profissionais da saúde. Trata-se, portanto, de estratégia extravagante e absurda. Ele acrescenta que a utilização do termo “rebanho” sugere concepção de caráter antissocial e anti-humanitário.
A imunidade coletiva é solução apenas para quem sobrevive. Cada vida importa. Na semana em que o Brasil atingiu a marca de 150.000 óbitos por COVID-19, deve-se lembrar que não são apenas números. São pais, mães, filhos, filhas, trabalhadores e trabalhadoras que perderam a vida, famílias que tiveram sonhos e projetos interrompidos. Portanto, até que uma vacina eficaz e acessível esteja disponível, a melhor estratégia de proteção populacional deve considerar as medidas de prevenção já amplamente divulgadas: uso de máscara, distanciamento social, lavar as mãos com água e sabão e uso do álcool em gel 70%."
Veja o texto completo no boletim.
Documento relacionado
Boletim nº 28 do Observatório da Epidemia do Novo Coronavírus no Sul da Bahia (22/10/2020)
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