Cientista da UFSB está entre os mais relevantes em ranking mundial de pesquisadores da leishmaniose cutânea
O site Expertscape divulgou nesta semana uma lista com ranqueamento dos pesquisadores mais influentes e relevantes nos estudos sobre a leishmaniose cutânea, com mais de 13 mil cientistas que publicaram resultados de suas pesquisas no período entre 2010 e 2021. Cientistas brasileiros ocupam posições no topo dessa lista, e um deles é o professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Sul da Bahia, Luiz Henrique Guimarães. A lista está acessível neste link.
O site Expertscape é um buscador com classificação de experiência de instituições e profissionais em mais de 29 mil assuntos da área biomédica. Para essa lista de pesquisadores, foi feito um levantamento no banco de dados do PubMed para quantificar todos os artigos de periódicos médicos publicados nos últimos dez anos.
O tema de estudo
Conforme a Organização Mundial da Saúde, a leishmaniose é uma das doenças mais negligenciadas no mundo. Protozoários do gênero Leishmania provocam diferentes formas clínicas da doença, que são classificadas nos grupos da leishmaniose tegumentar ou cutânea e a visceral, também conhecida como calazar. No primeiro grupo, os protozoários se concentram e danificam pele e mucosas, e no segundo, os órgãos prejudicados são principalmente baço, medula óssea, gânflios linfáticos e fígado. Os dois grupos de manifestações clínicas da leishmaniose também são zoonoses, isto é, doenças que acometem diferentes espécies de animais. No caso das leishmanioses, roedores, marsupiais silvestres e animais domésticos podem ser infectados e funcionar como reservatórios dos protozoários, com os mosquitos do gênero Lutzomiya (no Brasil, conhecidos como mosquito-palha e biriguí) transportando os causadores da doença de uma espécie a outra quando se alimenta de sangue.
A leishmaniose cutânea, variante das leishmanioses que acomete em média 20 a 25 mil pessoas por ano apenas no Brasil, e cerca de 1,2 milhão de pessoas no mundo, é o principal tema de pesquisas do grupo. Trata-se de uma das doenças tropicais negligenciadas, o que quer dizer que está ligada à miséria. Como explica o professor Luiz Henrique, as diferentes leishmanioses precisam de um vetor para a transmissão, no caso, o mosquito, e estão concentradas em zonas tropicais, notoriamente áreas que concentram grande número de pessoas de baixa renda. "O termo doença tropical é usado como sinônimo de doença negligenciada. Uma das definições de doença negligenciada é 'que não só prevalecem em condições de pobreza, mas também contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que representam forte entrave ao desenvolvimento dos países.' Pelo fato de ocorrer em países pobres, essa classe de enfermidade acabam tendo baixa prioridade de investimentos pela indústria farmacêutica e pelos governos.
O professor Luiz Henrique falou sobre a trajetória que o levou a investigar cientificamente a leishmaniose cutânea. "No meu caminhar até me reconhecer como pesquisador, é claro que a graduação tem fator primordial. Não tive oportunidade de fazer iniciação científica nessa época pois, oriundo de família pobre, minha maior preocupação era pagar a mensalidade da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Fui beneficiado com uma bolsa, a bem dizer, mas mesmo a parte que me cabia era muito para minha família pagar. Nessa época, fui aluno do professor Edgar Carvalho (Imunologia) e do professor Paulo Machado (dermatologia), hoje meus colegas de pesquisa. Depois da graduação passei um ano no exército e quando saí, comecei a dar plantões de emergência, para finalmente comprar meu primeiro carro (ufa!). Mas a medicina assistencialista estava me deixando infeliz, principalmente por conta das condições de trabalho. Por sorte, recebi um convite do professor Edgar para entrar em um projeto de pesquisa em leishmaniose, isso no ano de 2001. Até hoje estamos trabalhando juntos."
Um dos pontos destacados pelo professor Luiz Henrique é a grande dificuldade que o setor científico do Brasil enfrenta, devido a decisões de governo e de estado que reduzem o investimento na formação de novos pesquisadores e em projetos de pesquisa. Ele detalha alguns pontos do impasse: " A legislação brasileira, por conta da lei das licitações, por vezes, engessa a aquisição de material científico e insumos. Digo isso pois, por vezes, queremos repetir experimentos realizados em outros países e para poder comparar os resultados, precisamos usar os mesmos materiais. Por mais que um grupo de pesquisa consiga financiamento de pesquisa, a maior parte desses experimentos são realizados em universidades públicas, que devido às restrições orçamentarias estão com suas infraestruturas corroídas, o que compromete o andamento dos experimentos. O orçamento é apertado e na maioria das vezes inexistente para bolsas de pesquisa e de pós-graduação. Com isso, deixa-se de atrair jovens pesquisadores que são motores do processo de pesquisa no país. Sendo claro: ao não estimular a pesquisa dos jovens agora, pagaremos o preço muito mais alto no futuro". O cientista e educador também argumenta que as amarras legais e orçamentárias tornam os processos morosos e custosos para fundações de apoio e agências de fomento à pesquisa.
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