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De Carolina a Marielles : Re (existência) negra feminina

  • Publicado: Quinta, 21 de Março de 2019, 15h43
  • Última atualização em Quinta, 28 de Março de 2019, 16h19
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“Nossa época obriga a tomar partido”, lembra a escritora africana, Chimamanda Ngozi Adichie.  Diante da expressiva quantidade de vítimas de violência de gênero e de feminicidios, em Itabuna, o Conselho Municipal de Igualdade Racial, de Itabuna, organizou a roda de conversa De Carolina a Marielles : Re (existência) negra feminina, com a atriz e yalorixa Alba Cristina (Mãe Darabi) e a jornalista e professora Célia Regina da Silva, (UFSB/CJA),  no Sindicato dos Professores de Itabuna (SIMPI). O intuito foi comemorar o nascimento da escritora Carolina Maria de Jesus, autora de “ Quarto de Despejo” e marcar um ano do assassinato da Marielle Franco.

Com direito a música, poesia, conversa sobre a resistência de mulheres negras, o evento contou com presença de mais de 100 pessoas, entre estudantes, docentes do ensino fundamental e médio  da rede pública de Itabuna, e militantes dos movimentos sociais.

 

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A abertura foi feita pela artista Mariana Miranda, que apresentou a performance “Entre Marielles e Zabelês”. Ela chama atenção para a questão da racialização, a qual as mulheres negras são submetidas a todo tempo: " você é uma negra bonita", "uma negra que canta bem." No entanto, quando ocorre a reinvindicação do lugar de fala da mulher negra nos espaços de poder, “somos retaliadas, silenciadas”.

A atriz Alba Cristina ( Mãe Darabi) inicia sua fala se colocando à frente da mesa, pois "ela já teria ficado atrás por muito tempo e agora quer estar à frente”, faz referência aos silenciamentos e à invisibilidade da mulher negra na sociedade brasileira. Lembra-se de seu processo de afirmação enquanto mulher negra e toda a problemática envolvendo uma das nossas principais marcas identitárias: o cabelo.

RODA8Uma foto de Carolina Maria de Jesus é o mote inicial para a apresentação da professora Célia Regina  que pergunta à plateia conhece a pessoa apresentada na foto.  De forma um tanto tímida, cerca de cinco pessoas sentadas na parte da frente do auditório, afirmam que sim, ficando evidente como a autora do livro “ Quarto de despejo!, traduzido  em 13 línguas e comercializado em mais de 40 países, é pouco conhecida na sociedade. Vale destacar que em sua “ perambulação criativa”, Carolina vai tecendo a colcha de retalhos de sua dura realidade : fome, agruras, tristezas. Por intermédio de seu olhar arguto, elabora e transforma dejetos (lixo) que encontra pelo caminho em  alimento também para a sua alma.

Em seguida, a professora tece considerações sobre o processo de resistência cultural, artística e política das mulheres negras. Cita a ativista e feminista negra Lélia Gonzalez para quem: “....a gente nasce preta, mulata, marron, roxinha etc, mas tornar-se negra é uma conquista.”

Por fim, salienta a força de expressão e do ativismo das mulheres negras de comunidades populares empobrecidas que estão transformando o modo de fazer política. “É a hora e a vez das mulheres, lembra Benedita da Silva.” Já para a ativista negra e filósofa Djamila Ribeiro, “ a fala é que nos traz humanidade”.

Outra participação cultural foi do grupo “Negras Perfumadas”. As percursionistas fizeram intervenção com a Yalorixa, Mâe Darabi, apresentando a canção Ayndeo, canto africano que remete à memória do artista Mario Gusmão. Logo depois, foi feita a declamação da música “ Quantas hão de morrer”, de Egnaldo França. Elas encerraram a apresentação com a música: Força Negra, que exalta a altivez, força e beleza da mulher negra da periferia. 

O evento foi organizado pelo Conselho Municipal de Igualdade Racial, com o apoio da PROSIS/ UFSB. Participaram do evento entidades da sociedade civil organizada.

 

Texto: Célia Regina da Silva

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