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Estudantes e professores do Colégio Estadual indígena Kijetxawê Zabelê lançam livro que retrata histórias, encantos e lutas do povo Pataxó

  • Escrito por Malu Carvalho
  • Publicado: Terça, 05 de Fevereiro de 2019, 10h45
  • Última atualização em Terça, 05 de Fevereiro de 2019, 10h46
  • Acessos: 4901

Foto Talita Oliveira Tamykuã Pataxó 1Livro construído por estudantes e professores Pataxó da Escola Estadual indígena Kijetxawê Zabelê, com mediação do Coletivo Sociedade da Prensa, será lançado na Aldeia Kaí, em Cumuruxatiba, distrito de Prado, no Extremo Sul da Bahia. O lançamento acontece no dia 12 de fevereiro (terça-feira), às 14h, na sede da escola, e contará com uma roda de conversa sobre o processo criativo de construção do livro Kijetxawê Zabelê. A publicação é destinada a escolas indígenas e não indígenas de todo o país, com a intenção de fortalecer a comunidade escolar da Zabelê e a história dos Pataxó de Cumuruxatiba. O projeto teve apoio institucional da UFSB, funcionando como um projeto de extensão, sob a coordenação das professoras Laura Castro de Araújo e Cinara Araujo do campus Sosígenes Costa.

Composto por três partes: narrativas de resistência e retomada da comunidade Pataxó da Aldeia Kaí; atividades que podem ser realizadas em sala de aula e uma história infantil criada a partir de oficinas e conversas na escola, o livro está disponível na versão impressa e digital, gratuitamente, pelo link www.edicoeszabele.com.br. Nele, é possível agarrar-se à cauda da “cobra do tempo” e caminhar pelo percurso de luta e resistência do povo indígena da região. Ou se deixar seduzir pelas histórias dos encantados, delicadamente construídas e desenhada pelas crianças da aldeia. No livro das ervas, o convite é para adentrar nos saberes indígenas de cura por meio das folhas sagradas.

A todo momento, o/a leitor/a será interpelado por poesia, desenhos, manifestos, canções que retratam a força e potência desta comunidade indígena. O livro permite também um encontro com as gigantes Pataxó, mulheres como Dona Jovita (pajé da Aldeia Kaí), que com seus cantos de guerra, sabedorias e muito trabalho lutam dia e noite pelo direito à terra, a vida e à dignidade do povo Pataxó da região.

Como o objetivo do livro também é estimular o desenvolvimento de atividades pedagógicas nas escolas indígenas e não indígenas, várias páginas são feitas para serem recortadas, coladas e transformadas em jogos. Dicas de atividades se espalham pela publicação e inspiram educadores/as a tratar importantes temas de forma lúdica e criativa.

Foto Talita Oliveira Tamykuã Pataxó

ATXÚHU - Integra o livro, o ATXÚHU que significa “linguajar”, em patxôhã. Elaborado em junho de 2018, a partir de um encontro de saberes com a artista indígena Rita Pataxó e as oficinas que integraram a residência artística do Coletivo Sociedade da Prensa, o ATXÚHU traz o alfabeto patxôhã construído a partir de grafismos e carimbos. Com apoio do estudante da Universidade Federal do Sul da Bahia, Vitor Fabem, o alfabeto foi transformado em fonte de computador que pode ser baixada gratuitamente no site do projeto. ”Impressos nesse alfabeto estão as memórias e os afetos gerados por esse encontro. Dessas letras se desdobram palavras de resistência e narrativas”, destacam Laura Castro e Cacá Fonseca, organizadoras da publicação que tem autoria coletiva.

Foi diante deste contexto de dor que se deu o encontro da escritora e professora universitária Laura Castro com a aldeia. No âmbito de um projeto de extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia, onde ensinava, Laura e uma equipe de estudantes bolsistas começaram a desenvolver oficinas e outras atividades na aldeia Kaí. O desejo de construir o livro, levou Laura a juntamente com o Coletivo Sociedade da Prensa da qual faz parte a escrever o projeto Edições Zabelê que foi contemplado por um editado do Fundo de Cultural do Estado da Bahia (Funceb).Como tudo começou – Entre 2015 e 2016 a Aldeia Kaí foi vítima de uma série de violências. Em janeiro de 2016, a aldeia sofreu uma violenta e humilhante reintegração de posse que destruiu todas as ocas, casas, plantações e um posto de saúde. Cerca de 100 policiais federais e militares invadiram a área, expulsando a comunidade do seu território, cumprindo o mandado de posse favorável à suposta proprietária da terra, outorgado no ano de 2015. Apenas a escola Zabelê na Aldeia Kaí havia sobrevivido aos tratores e serviu de cozinha, quarto, habitação para muitos.

“A reintegração de posse de 2016 foi muito sofrida, a destruição da aldeia foi assistida pelas crianças e é uma história traumática para os pataxó da Aldeia Kaí. Tentando responder um pouco da pergunta “O que pode um livro?”, a partir da experiência que vivi com as crianças, fiquei me perguntando se talvez a criação desses encantados, deste livro vivo e a reconexão poética com essas histórias poderiam contribuir para a cicatrização dessa ferida”, partilhou Laura.

As Edições Zabelê surgiram, assim, como uma possibilidade de conviver com os Pataxó de Cumuruxatiba, especificamente da Aldeia Kaí, a partir de sua escola. Foram realizadas uma série de oficinas que contemplam as etapas de criação de um livro para as turmas do Ensino Infantil, Fundamental, Médio e EJA. Foram oficinas de escrita poética, desenho, serigrafia, encadernação e criação de carimbos. Os artistas residentes puderam também, partilhar como aprendizes de valiosos momentos de troca de saberes e fazeres pataxó como as pinturas corporais com jenipapo e a feitura do bolo de puba. Além de acompanhar, de perto, as inúmeras dificuldades enfrentadas por toda a comunidade escolar com as recorrentes faltas de transporte e merenda escolar.

 

 

 

Informações: Laura Castro

Crédito das fotos: Talita Oliveira (Tamykuã Pataxó)

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