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Estudo da UFSB mostra infestação de açaizeiros por espécie invasora de ácaro

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Quinta, 30 de Setembro de 2021, 16h31 | Última atualização em Sexta, 01 de Outubro de 2021, 16h59 | Acessos: 2015

Os cultivos de açaizeiros no Sul da Bahia vão ter de se adaptar para enfrentar a dispersão de uma praga que, até então, afetava outros cultivos. Essa é uma das conclusões de pesquisa realizada na Universidade Federal do Sul da Bahia e relatada em artigo publicado na revista científica internacional Systematic and Applied Acarology. Assinado por Felipe Micali Nuvoloni (UFSB), Laiza Mirelle Santos Andrade (UFSB), Elizeu Barbosa Castro (UNESP), José Marcos Rezende (UNESP) e Marcel Santos de Araújo (UFSCAR), o artigo First report of damage and population dynamics of Raoiella indica Hirst (Acari: Tenuipalpidae) on Euterpe oleracea (Arecaceae) in the State of Bahia, Brazil mostra a investigação que descobriu que o ácaro-vermelho-das-palmeiras está infestando também os cultivos de açaí, com o ciclo completo de desenvolvimento e reprodução, o que vai demandar a adoção de medidas sanitárias por parte dos produtores e autoridades públicas. O ácaro-vermelho-das-palmeiras provoca prejuízos já reconhecidos nas culturas de coco e banana. A pesquisa mostra que o açaizeiro passou a figurar na lista de hospedeiros dessa espécie minúscula de aracnídeo.

 

A estudante Laiza Mirelle Santos Andrade, que concluiu o Bacharelado Interdisciplinar em Ciências em setembro de 2020 e hoje cursa Engenharia Sanitária e Ambiental no Campus Sosígenes Costa, em Porto Seguro, desenvolveu a pesquisa sob orientação do professor Felipe Micali Nuvoloni, que leciona e pesquisa no Centro de Formação em Ciências Ambientais (CFCAM). O artigo apresenta dados obtidos no estudo feito enquanto bolsista de Iniciação Científica e defendidos no projeto integrador (o trabalho de conclusão de curso) de Laiza no ano passado. Uma das fotos feitas durante a fase de campo foi escolhida para a capa da edição mais recente do periódico.

 

cover photo SSAA pesquisa foi desenvolvida tendo em mente o interesse em avaliar os sistemas agroflorestais (SAF) na região de Porto Seguro, ainda pouco estudados. As saídas a campo se deram na Fazenda Bom Sossego, na qual o SAF de açaí e cupuaçu foi selecionado para estudo da acarofauna. A descoberta foi inesperada: “Com base na literatura existente, não era esperado o registro desta espécie no açaizeiro, sendo que apesar de ser um registro inesperado pode contribuir para o manejo desta espécie na região”, conta o professor Felipe Micali Nuvoloni, um dos autores do artigo. A pesquisa segue em andamento, com uma segunda etapa em fase de elaboração para buscar novas informações sobre o estudo da acarofauna na cultura do cupuaçu e acerca da importância da preservação de fragmentos florestais para o controle biológico natural nas áreas de cultivo.

O ácaro-vermelho-das-palmeiras, conforme registros prévios na literatura científica, é uma espécie exótica e invasora, cuja presença foi notada pela primeira vez em 2009, em Boa Vista, e se sabia que tende a afetar especialmente os coqueiros, causando perdas significativas na produção. Até então, não se tinha registros desse tipo de ácaro no açaizeiro. O diferencial da pesquisa é comprovar que a espécie se adaptou ao vegetal e consegue fazer seu ciclo de vida completo na mesma planta. Isso ainda não significa um risco para o fornecimento de açaí e demais cultivos de palmeiras (dendê, e palmeiras ornamentais por exemplo), mas mostra que esse ácaro conseguiu ajustar sua fisiologia para suprir suas necessidades e pode chegar a atingir o status de espécie praga nestes cultivos.

 

O professor Felipe Micali Nuvoloni explica que o ácaro-vermelho-das-palmeiras, a exemplo de outras espécies invasoras, pode colonizar novos hospedeiros quando chega a um habitat diferente. “Dessa forma, é possível que depois de 12 anos da chegada ao Brasil a espécie tenha passado por diversas mutações e se adaptado a hospedeiros que anteriormente não eram tidos como "ideais" para o seu desenvolvimento. Pelo fato do coqueiro ser um hospedeiro reprodutivo desta espécie, a colonização de outras palmeiras como o açaí se torna mais fácil por pertencerem à mesma família botânica (Arecaceae). Por fim, como a espécie ainda está em processo de dispersão e adaptação pelas regiões do Brasil, é possível que novos hospedeiros venham a ser registrados em breve”, explica o cientista.

Medidas para contenção

Com a descoberta no sul da Bahia, uma das estimativas é de que a praga esteja se espalhando depressa. Os dois meios de dispersão do ácaro são o vento (por ser um animal muito pequeno e leve) e o transporte de mudas infestadas. “É bem possível que o ácaro-vermelho-das-palmeiras já esteja espalhado por grande parte dos cultivos de coco do nordeste, o que facilita a dispersão dos mesmos para novas áreas e cultivos. Observa-se também clima mais quente e seco também favorece o desenvolvimento dessa espécie, sendo que as maiores densidades populacionais e possivelmente os danos apareçam nesse período (fevereiro a maio)”, afima o professor Felipe.

 

Por esses motivos, aumentar barreiras sanitárias entre os estados e exercer maior controle e fiscalização das mudas nos viveiros estão entres as providências recomendáveis para diminuir as chances do ácaro chegar a áreas ainda não colonizadas. “Como o vento também é uma forma de dispersão, é importante que novos cultivos de açaí sejam implementados em áreas não contíguas ou próximas a cultivos de coco (visto que há uma maior chance do último já abrigar populações deste ácaro), nem mesmo recomenda-se o cultivo conjunto destas culturas na forma de Sistemas Agroflorestais (SAFs). A direção do vento também é um fator importante para ser considerado no momento da implementação dos novos cultivos”, destaca o professor Felipe.

Essas medidas fitossanitárias são as possíveis no momento, conforme o pesquisador, porque as opções de controle químico conhecidas ainda são incipientes e pouco eficazes. Já as alternativas de controle biológico, no qual se introduz uma espécie predadora para reduzir a população da praga – por exemplo, ácaros da espécie Neoseiulus barkeri - estão em fase de estudos, apesar da liberação de uso pelo MAPA.

 

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