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Artigo em revista internacional descreve novas populações de gramínea ameaçada de extinção no Sul da Bahia

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Quinta, 07 de Novembro de 2019, 16h28 | Última atualização em Quinta, 07 de Novembro de 2019, 17h58 | Acessos: 6060

Anomochloa marantoidea 3Um artigo na área da Botânica trata de uma espécie rara de gramínea, existente apenas na Mata Atlântica do Sul da Bahia. O trabalho intitulado Ecological niche modelling and genetic diversity of Anomochloa marantoidea (Poaceae): filling the gaps for conservation in the earliest-diverging grass subfamily está publicado na Botanical Journal of the Linnean Society e é assinado pelos cientistas João P. Silva Vieira (Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS), Alessandra S. Schnadelbach (UFBA), Frederic Mendes Hughes (Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA), Jomar Gomes Jardim (Centro de Formação em Ciências Agroflorestais da Universidade Federal do Sul da Bahia - CFCAF/UFSB), Lynn G. Clark (Iowa State University) e R. Patrícia de Oliveira (UEFS). O professor Jomar Jardim respondeu a perguntas sobre o estudo para a seção UFSB Ciência.

 

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Os pesquisadores localizaram e coletaram amostras de população da Anomochloa marantoidea, espécie bastante rara e pertencente a uma linhagem divergente e das mais antigas de gramíneas, e por isso essencial para o estudo de padrões evolucionários em grupos biológicos.

Um detalhe da história da pesquisa sobre essa espécie é que ela foi redescoberta por botânicos em 1976, quando encontraram duas populações da gramínea na região de Una. Isso ocorreu mais de um século após a descrição científica original, feita a partir de espécimes cultivados em estufas em Paris, com poucos detalhes sobre a localização original – sabia-se apenas que foram coletadas no Brasil. No entanto, as plantas na estufa parisiense morreram alguns anos após a coleta, motivando o trabalho de campo nos anos 1970.

A equipe atual de botânicos localizou duas novas populações naturais da Anomochloa marantoidea na região, ambas descobertas em reservas indígenas do povo Tupinambá. As saídas a campo, cada uma com duração de três dias, ocorreram em julho, agosto e outubro de 2015 e em junho e julho de 2016. Segundo o professor Jomar Jardim, as etapas da investigação científica combinaram trabalho de campo, análise genética em laboratório e análise de dados em computador.

 

 

 

Descobertas

 

 

Anomochloa habitat 2

Para chegar a essas localizações, os pesquisadores usaram um recurso indisponível aos antecessores da década de 1970: a técnica da modelagem de nicho ecológico, uma forma de modelagem computacional com programas específicos que levam em conta dados de clima, elevação, solo e vegetação a partir de bases digitais online e correlacionar matematicamente com dados das populações conhecidas. Com isso, os cientistas orientaram as saídas a campo pelo modelo computacional e com uso de um equipamento de GPS portátil, o que permitiu concluir que a espécie se caracteriza também pela alta restrição climática, isto é, se estabelece e se multiplica em condições muito específicas de bastante umidade e temperatura média elevada, típicas da floresta ombrófila densa, uma subdivisão da Mata Atlântica.

Um dos dois habitat encontrados fica na Serra do Padeiro, aldeia indígena Tupinambá, em Buerarema-BA.

 

Dados sobre a distribuição geográfica e os locais com potencial ecológico para a ocorrência da espécie ajuda na tomada de decisões de conservação tanto da Anomochloa marantoidea, que está na Lista Vermelha da Flora Brasileira, e na lista de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente, na categoria criticamente em risco de extinção, quanto de outras espécies associadas à mesma vegetação. O motivo é a preferência da espécie por locais em que possa estar abrigada pelas copas das árvores e no microclima específico que é também favorável à produção de cacau no sistema cabruca e, mais recentemente, à produção de banana e pupunha. Em ambos os casos, a gramínea corre risco de ser destruída por se tratar de espécie herbácea pouco conhecida e sem importância econômica aparente. Um dos autores do estudo, o professor Jomar Jardim, afirma que a espécie está em “elevado grau de ameaça e que um plano de conservação deve ser elaborado para manter as populações conhecidas e buscar por outras a partir das áreas indicadas na análise de nicho ecológico”. 

Encontrar as novas populações permitiu chegar ao segundo objetivo do estudo: coletar espécimes da gramínea em cada uma das populações encontradas para análise genética. Conforme o professor Jomar, “a análise da estrutura genética a partir de marcadores moleculares sugere fragmentação recente e baixo fluxo gênico entre as populações”, o que significa que há dois grupos com diferenças genéticas que não estão trocando genes em quantidade suficiente, pelo isolamento dessas populações, o que tende a enfraquecer a espécie. O processo reprodutivo de Anomochloa marantoidea ainda precisa ser mais estudado, afirmam os autores da pesquisa. A boa notícia é que, em paralelo com a proteção de locais onde essa espécie ocorre e de pontos potencialmente viáveis para essa ocorrência, a conservação em cativeiro também é viável, como demonstrado pela reprodução de plantas da gramínea no herbário da Ceplac, onde um exemplar está em cultivo desde 1986.

 

Fotos por Jomar G. Jardim

 

 

Galeria de fotos

Detalhe da Anomochloa marantoidea. Foto por Jomar G. Jardima gramínea é uma das espécies ameaçadas de extinção na Lista VermelhaSerra do Padeiro, em Buerarema, Bahia, é um dos pontos onde as novas populações foram descobertas
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