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Pesquisadores da UFSB se empenham em descobrir segredos geológicos submersos no Sul da Bahia

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Segunda, 04 de Março de 2024, 11h05 | Última atualização em Terça, 12 de Março de 2024, 12h42 | Acessos: 630

G0020073As riquezas geológicas do Banco de Royal Charlotte, uma das áreas mais extensas e desconhecidas da plataforma marinha brasileira, estão sendo desveladas pelo Grupo de Pesquisas em Geologia e Geofísica, do Centro de Formação em Ciências Ambientais da UFSB.

“Em pouco mais de três anos de pesquisas na região, já conseguimos informações valiosas sobre a origem do banco, suas características geológicas e do relevo submarino”, diz o coordenador do grupo, professor Caio Vinícius Gabrig Turbay, que conta também com a participação de docentes da UFSB, pesquisadores de instituições parceiras e diversos estudantes do Bacharelado em Oceanologia e do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências da UFSB. A equipe de cientistas é composta por Caio Turbay (UFSB), nas áreas Geologia, geoquímica e mapeamento geológico; Andresa Oliva (UFSB), Geologia, geofísica; Juliana Quadros (UFSB), nas áreas de Oceanografia geológica e Paleontologia; Tatiana Dadalto (UFSB), Oceanografia geológica e Oceanografia física; Carlos Lacerda, Fábio Negrão, Flávia Guebert e Miguel Miers (Rede de Pesquisas do Coral-Vivo): Biologia marinha e ecologia; Ramilla Vieira de Assunção (Laboratório de Ensino Flutuante / Navio Oceanográfico Ciências do Mar IV): Oceanografia física.

As pesquisas iniciaram com o apoio do ICMBio e da Conservação Internacional em 2018, ao norte do banco. Entre outras instituições que apoiam o grupo, destacam-se o MEC, através do navio Ciências do Mar IV, o Instituto Coral-Vivo e a sua rede de pesquisas, além da Universidade Federal do Espírito Santo e da Universidade Federal de Pernambuco.

Segundo Caio Turbay, o coroamento dos esforços veio na expedição de setembro de 2023, à bordo do Ciências do Mar IV:  “com o auxílio da oceanógrafa Ramila Vieira de Assunção e da tripulação do navio, conseguimos cobrir toda a extensão do banco. Como resultados diretos da expedição, confirmamos a existência de uma rede de canais submarinos formados durante a última era glacial, quando o nível do mar estava muito mais baixo e os rios corriam sobre Royal Charlotte. Além disso, identificamos o que possivelmente são antigas costas, que foram submersas quando o nível dos oceanos no mundo começou a se elevar, há cerca de 8 mil anos”.

 

Resultados já levantados reforçam necessidade de investimentos em estudos e intervenções

IMG 20180417 082931655O Banco de Royal Charlotte é uma plataforma vulcânica na margem continental brasileira, com pouco mais de 20 milhões de anos. O vulcanismo na região abrange também a plataforma de Abrolhos, ao sul. Desde a antiguidade, esse vulcanismo criou condições favoráveis para o desenvolvimento de recifes de corais e algas. Além das descobertas geológicas, o professor Turbay destaca os esforços da Rede de Pesquisas Coral-Vivo e seus integrantes. Expedições anteriores da rede, em 2021 e 2022 identificaram recifes profundos, que até então eram desconhecidos, além de uma área extensa recoberta por algas calcárias. “As algas calcárias são organismos importantíssimos no controle do aquecimento global, pois conseguem retirar cerca de 14% do dióxido de carbono da atmosfera", salienta o cientista.

RamillaA região de Abrolhos tem sido apontada como a que detém a maior biodiversidade conhecida até então no Atlântico Sul. As semelhanças com Abrolhos mostram que o Banco de Royal Charlotte ainda guarda muitos segredos a serem desvendados. No entanto, a região tem sofrido muita pressão humana, associada aos resíduos que são lançados nos rios, ao turismo predatório, à pesca descontrolada e à ameaça da exploração e extração de petróleo nas proximidades: “Tudo isso levanta a necessidade urgente da criação de áreas de proteção integral e de uso sustentável, pois a velocidade da destruição é muito rápida”, diz o professor Caio.

A partir dos dados levantados pelos estudos do grupo, o professor Caio lista algumas possibilidades para mitigar e reorganizar a pressão humana sobre o Banco Royal Charlotte, na forma de políticas públicas. Uma delas é o fortalecimento das universidades e dos grupos de pesquisa regionais, principalmente os compostos por jovens doutores, com aumento do aporte de recursos para pesquisas. "É fundamental que a UFSB se torne a principal protagonista nos estudos de Royal Charlotte (é o nosso quintal), mas isso só acontecerá com o apoio interno e externo", destaca o pesquisador. Além dessa medida, outras sugestões derivadas das pesquisas são a gestão dos efluentes e fortalecimento de comitês de bacias, nas principais bacias hidrográficas da região, principalmente dos rios Jequitinhonha, Pardo, João de Tiba, Buranhém e Rio dos Frades; a criação de áreas de proteção integral e áreas de uso restrito, como acontece no caso do Banco de Abrolhos; o fortalecimento e do monitoramento da pesca, do tráfego e do turismo na região marinha; e o reforço de políticas de monitoramento das áreas costeiras e prevenção da ocupação costeira, frente o aumento do nível dos oceanos neste século.

 

Frentes de investigação

Os projetos em andamento integram diferentes disciplinas do conhecimento científico e reúnem pesquisadores e estudantes com o intuito de cobrir o Banco de Royal Charlotte em sua complexidade.

A pedido, o professor Caio Vinícius Turbay listou as investigações em andamento no grupo:

GeomorfoDudaMapeamento Geológico e Geomorfológico do Banco de Royal Charlotte  (Coordenação de Caio Turbay / Parceria Rede Coral-Vivo / Ciências do Mar IV-MEC-UFPE / ICMBio / Conservação Internacional / LaboGeo, UFES): Levantar características geológicas e do relevo submarino do banco, para entender sua evolução ao longo do tempo geológico, as relações da geologia e geomorfologia com os habitats bentônicos (fundo marinho), buscando contribuir para o gestão e proteção dos recursos naturais do Banco. A pesquisa utiliza métodos de amostragem geológica direta, métodos geofísicos, estudos sedimentológicos, geoquímicos e futuramente isotópicos.

Qualidade e proveniência dos sedimentos terrígenos na porção interna do Banco de Royal Charlotte (Coordenação de Caio Turbay / Parceria Rede Coral-Vivo): Estudos sedimentológicos e geoquímicos com o intuito de predizer as principais fontes de lamas continentais que chegam na plataforma marinha e os possíveis poluentes que elas trazem.

Levantamento dos sítios geológicos do banco de Royal Charlotte (Coordenação de Caio Turbay / Parceria Serviço Geológico do Brasil (CPRM)): Levantamento de sítios naturais de importância científica, cultural, educativa e turística, para fins de reconhecimento pela Sistema de Geossítios do Brasil e UNESCO. Os Geossítios têm potencial de comporem Geoparques com apoio da UNESCO. Essas iniciativas fortalecem medidas de proteção legal e apoiam a população através do turismo sustentável de base científica, ambiental e cultural, potencializando a renda nas comunidades da região.

Screenshot from 2023 10 05 17 45 50Utilização da Técnica de Continous Resistivity Profile (CRP) Para O Mapeamento dos Recifes Submersos Costeiros de Porto Seguro/BA (Coordenação de Andresa Oliva / Parceria com o  LEBAC - Laboratório de Estudo de Bacias, UNESP): Considerando que os recifes de corais fornecem importantes serviços às populações costeiras, como proteção a eventos erosivos, atividades culturais, regulação do clima e alimentação e que os recifes do Norte da Bahia são os que possuem maior percentual de corais afetados por branqueamento, além de serem afetados por processos de sedimentação elevadas e concentração de nutrientes, que podem estar relacionados ao fenômeno de interfluxo, que possui conhecimento escasso sobre sua abrangência, principalmente na costa de Porto Seguro, este projeto tem por intuito utilizar a Técnica geofísica de CRP para mapear e delimitar recifes submersos costeiros da região. 

Sedimentação biogênica de recifes costeiros de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália (BA) (Coordenação de Juliana Quadros / Parceria com LaboGeo, UFES): Estudo dos sedimentos carbonáticos produzidos nas zonas recifais, com o intuito de entender suas condições de formação e as implicações ambientais.

Caracterização da morfodinâmica praial e evolução da linha de costa de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália - BA (Coordenação Tatiana Dadalto, Parceria com LaboGeo e Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia Costeira, ambos da UFES): As praias do município de Porto Seguro vêm sofrendo processos erosivos nos últimos anos, evidenciados por inúmeros registros como o desmoronamento de parte da estrada BR 367 no trecho da Ponta Grande, a exposição de raízes de castanheiras e coqueiros na praia e a destruição de barracas. Os processos erosivos ocorrem quando o balanço sedimentar é negativo, ou seja, a quantidade de sedimentos que sai do sistema é maior do que a que entra. A avaliação da variabilidade morfológica e do balanço sedimentar das praias é essencial para a compreensão e quantificação dos processos sedimentares e previsão de possíveis cenários futuros na evolução costeira. A presente proposta de trabalho tem o objetivo de avaliar a morfodinâmica praial e a evolução espaço-temporal de trechos da linha de costa dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, que são áreas onde este tipo de estudos são ausentes. 

Evolução Paleoambiental e Adaptações às Mudanças Climáticas na Planície Costeira do Rio Yaya, Santa Cruz Cabrália (BA) (Coordenação Tatiana Dadalto, Parceria com LaboGeo e Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia Costeira, ambos da UFES): A planície costeira do rio Yaya é marcada por intensos conflitos ambientais, que incluem o enfrentamento ao aumento da frequência e intensidade de tempestades e inundações. O objetivo deste projeto é analisar a evolução paleoambiental da planície costeira do rio Yaya, visando compreender o funcionamento do sistema frente às variações ambientais. 

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Com informações por Caio Vinícius Gabrig Turbay

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