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UFSB, a Universidade Federal da Mata Atlântica

Publicado: Sexta, 20 de Setembro de 2019, 09h15 | Última atualização em Sexta, 20 de Setembro de 2019, 09h45 | Acessos: 11672
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Somos todos Mata Atlântica

A Mata Atlântica é uma das mais ricas florestas em biodiversidade do mundo. O bioma está presente em 17 estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), abrangendo 15% no território nacional. Segundo dados de relatório anual publicado este ano pela Fundação SOS Mata Atlântica, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente, dos quais um percentual de 80% está em áreas privadas. No espaço coberto pela Mata Atlântica habitam certa de 145 milhões de pessoas, o que corresponde a 72% da população brasileira.

É nesse contexto que se insere a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), uma das novíssimas instituições federais de ensino superior do Brasil. Criada pela Lei nº12.818/2013, a UFSB é uma instituição multicampi e sua área de abrangência expande-se por mais de 40 mil Km2, abrangendo 48 municípios que somam mais de 1,5 milhões de habitantes. Com campi em Itabuna (sede), Porto Seguro e Teixeira de Freitas, atende todos os municípios vizinhos, a grande maioria de pequeno porte.

Estamos na Mata Atlântica, somos parte desse território e, como os povos tradicionais, firmamos convictos nosso papel de preservar, auxiliar na regeneração do bioma, desenvolver novas tecnologias e práticas agroflorestais eficazes e sustentáveis, cuidar das espécies vegetais e animais, garantindo que eles possam livre circular e prosperar. É nosso dever, como universidade, buscar o equilíbrio entre conservação/preservação ambiental e o desenvolvimento humano (econômico, social e culturalmente engajado), buscando soluções sustentáveis e ecoamigáveis. Como chegaremos a esse nível de integração simbiótica? Produzindo conhecimento, desenvolvendo novas tecnologias e inovando socialmente.

 

A Mata Atlântica e o Sul da Bahia

No estado da Bahia, o Corredor Central da Mata Atlântica estende-se do Rio Paraguaçu (na Baía de Todos os Santos) até o Rio Mucuri, na divisa com o estado do Espírito Santo, em sua grande parte tomada pela vegetação ombrófila densa. Trata-se da região com o maior índice de endemismo vegetal da floresta, entre 26% e 28% das espécies de diversos gêneros. Floresta sempre verde, com árvores altas (até 40 m de altura) e abundância de arbustos, em sua maioria samambaias, bromélias e palmeiras, a área também apresenta outros biomas diferenciados, como manguezais, restingas, floresta semidecídua e floresta ombrófila aberta.

No Extremo Sul localizam-se três parques nacionais, totalizando cerca de 50 mil hectares de florestas compreendendo os parques do Descobrimento, Monte Pascoal e Pau-Brasil. O Parque Nacional Marinho de Abrolhos também se localiza na região, com seus 90 mil hectares de área protegida, com os recifes coralinos mais ricos do Atlântico Sul. De extrema importância para todo o território de Mata Atlântica da Bahia são também as pequenas bacias hidrográficas, que garantem o abastecimento de toda a vida (terrestre e marinha) existente no bioma.

Neste espaço de natureza exuberante também estão 32 territórios indígenas demarcados, dos quais 19 estão situados nos domínios da Mata Atlântica. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), as terras indígenas baianas da região têm população de mais de 20 mil indígenas de diferentes etnias como Pataxó, Atikum, Kiriri, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Tuxá, Pankararu e Tupinambá. Também é preciso ressaltar a presença de outros povos tradicionais na costa baiana, como as comunidades quilombolas identificadas e certificadas, que já somam 45 nos Territórios de Identidade Sul, Extremo Sul e Costa do Descobrimento. Riqueza étnica, diversidade cultural, patrimônio humano incomparável, todos ao abrigo da Mata Atlântica.

No território de abrangência da Mata Atlântica do Sul e Extremo Sul baianos também podem ser destacados projetos de assentamentos da reforma agrária. Ao todo são 100 projetos que ocupam 62 mil hectares distribuídos em 29 municípios, com capacidade de atendimento a 5.542 famílias. As comunidades rurais e tradicionais desempenham um importante papel na conservação e restauração das florestas, especialmente quando empregam métodos de produção que proporcionam alternativas de renda ecossustentáveis, protegendo assim a mata a longo prazo.

 

A contribuição da UFSB para o território e o povo da Mata Atlântica

A UFSB é uma Universidade Federal situada em uma região periférica de um país ainda periférico. Em cinco anos de funcionamento, conta com pouco mais de 30% de seu corpo docente previsto em lei, e desde o início de suas atividades dedica-se à produção de conhecimento em seus três ciclos de formação. Em especial os Cursos de Terceiro Ciclo, a instituição tem submetido a maioria de suas propostas de Programas de Pós-Graduação diretamente relacionados ao meio-ambiente do Sul da Bahia[1], citamos o caso do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Tecnologias Ambientais, cuja abordagem multidisciplinar busca compreender o funcionamento dos ecossistemas naturais da região na busca de estratégias ambientalmente sustentáveis que promovam a resolução de problemas ambientais.

Entretanto vale ressaltar que todos os cursos de Pós-Graduação da UFSB atuam em forte consonância com os interesses da região, podemos citar como exemplo o curso de Pós-Graduação em Ensino de Relações Étnico Raciais, cujo corpo discente é, na sua maioria, constituído por professores que atuam na educação básica e na educação informal, cuja importância é inegável para o reconhecimento dos saberes tradicionais da região. O conhecimento produzido na instituição volta-se, portanto, para a resolução de problemas regionais e a prospecção de melhoria para as pessoas que vivem no território.

A UFSB é, ainda, uma instituição empreendedora, sendo a principal protagonista na criação do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia, o PCTSul. Esta instituição originou-se de parceria inicial com a UESC, o IFBA, o IFBahiano e a CEPLAC e, hoje, inclui a participação de duas dezenas de instituições públicas, privadas e do terceiro setor. O Parque já funciona há três anos, tendo CNPJs titular e filiais, e vários laboratórios (tudo com base em recursos financeiros 100% privados). Com apenas 3 anos de criado o PCTSul presta diversos serviços aos produtores de cacau e de chocolate da região, tem renda própria e doutores contratados pelo regime da CLT, contribuindo significativamente para a agregação de valor econômico e social ao sistema produtivo agroflorestal do Sul da Bahia. Os Sistemas Agroflorestais (SAFs), constituem-se como alternativa para aumentar a produção agrícola, animal e florestal e sua viabilidade na Mata Atlântica torna-se, portanto, objeto de estudo na universidade. A partir do plantio consorciado cacau-floresta (cabruca) – bastante utilizado na região, é possível desenvolver novas perspectivas de uso e descobrir novos serviços sustentáveis que atendam às demandas da população sem depredar o ambiente.  

No Brasil de hoje, apenas 17% dos concluintes do ensino básico acessam o nível superior. A UFSB tem professores tão sonhadores e comprometidos com a transformação da realidade socioeconômica que vem dedicando boa parte de seus esforços aos Colégios Universitários que, em cidades pequenas como Ibicaraí e Coaraci, vem atendendo a aqueles que não se incluem naqueles 17%. A UFSB conta hoje com 8 Colégios Universitários, cuja seleção é feita em edital próprio oportunizando o acesso de muitos jovens que sempre foram excluídos dos processos seletivos nas Universidades Federais, mesmo considerando a Lei de Cotas. Inovamos socialmente, portanto, quando atendemos aos jovens da região, em especial aos mais vulneráveis economicamente. Atualmente, mais de 60% dos alunos matriculados na graduação e pós-graduação da UFSB são da região Sul e Extremo Sul do Estado da Bahia.

A UFSB, há mais de um ano, é responsável pelo Jardim Botânico Floras, espaço localizado no Campus Sosígenes Costa (Porto Seguro) e dedicado à manutenção, pesquisa e divulgação sobre a flora da região para a comunidade em geral. Até o momento o Floras conta com 194 espécies nativas brasileiras e 52 espécies exóticas, todas localizadas nos remanescentes de floresta que circundam o campus. Das espécies nativas, 15 são endêmicas da Mata Atlântica e estão sendo estudadas por botânicos e biólogos da instituição.

Estar inserido num dos territórios mais biodiversos do planeta e agir para preservá-lo é uma tarefa complexa. A Lei da Mata Atlântica (11.428/2006) regulamenta a proteção e a utilização da biodiversidade desse espaço, é uma conquista da sociedade e todas as instituições devem zelar por esse patrimônio da humanidade. Mesmo sob o amparo da Lei, o bioma é assaltado continuamente por inúmeras mazelas. As principais ameaças ao bioma são: exploração predatória dos recursos naturais, uso de velhas práticas agropecuárias não sustentáveis, intensificação da industrialização e expansão urbana desordenada, consumo excessivo, lixo e poluição.

 

Compromisso com a Preservação

Não é tarefa fácil preservar, e a Bahia, embora seja um dos cinco estados com maiores registros de área desmatada (foram 12.288 ha em 2016-2017), reduziu em 51% o desmatamento na área com cobertura florestal de Mata Atlântica (foram 4.050 ha em 2017-2018). Além de trabalhar almejando o desenvolvimento sustentável, a universidade deve voltar-se, também, para a conscientização social a respeito dos serviços ambientais prestados pelas florestas e lutar pela valorização dos povos tradicionais.

Num momento de desgaste das relações entre o governo e as instituições federais públicas responsáveis pela manutenção dos direitos e do atendimento público isonômico, ético e que garanta as liberdades e direitos dos cidadãos, a universidade se percebe como um dos baluartes restantes de defesa da sociedade civil. Como universidade pública, temos o dever de zelar pelos valores que mantém a sociedade em movimento, temos como uma das missões de nossa instituição valorizar a vida, lutar em favor das minorias e clamar pela garantia de seus direitos civis, garantir a equidade no acesso à educação e, também, zelar pelo nosso patrimônio natural, garantindo sua existência, fomentando sua regeneração e desenvolvendo técnicas sustentáveis de usufruto.

Para tanto, é imprescindível proteger as bacias hidrográficas e o solo; cuidar dos mananciais; diminuir o uso de agrotóxicos; manter corredores silvestres que facilitem a circulação de abelhas, provendo condições para a polinização; cuidar também da cultura e do legado das populações tradicionais, aprendendo também com elas a preservar e cuidar desse espaço tão importante para a nossa sobrevivência.

Como universidade, temos compromisso prioritário com a educação, incentivando a comunidade, especialmente os jovens e as crianças, a conhecer e cuidar desse patrimônio natural que é Patrimônio da Humanidade. Somos todos UFSB, somos todos Mata Atlântica!

UFSB, a Universidade Federal da Mata Atlântica

[1] Propostas de Cursos de Pós-Graduação já submetidos à Capes: Ciências Agrárias Tropicais (2015); Biodiversidade Tropical e Conservação (2015); Ciências e Tecnologias Ambientais (2016); Saúde Ambiente e Biodiversidade (2016, 2018, 2019); Biossistemas (2018, 2019); Biodiversidade (2018); Ciências e Sustentabilidade (2019).

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