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UFSB realiza Festival de Artes Negras Encruzilar e transforma espaço histórico em território de arte, ancestralidade e reexistência

  • Publicado: Segunda, 10 de Novembro de 2025, 11h27
  • Última atualização em Segunda, 10 de Novembro de 2025, 11h29
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EncrulizarA frase de Conceição Evaristo — “O importante não é ser o primeiro ou a primeira, o importante é abrir caminhos” — serviu de inspiração para a noite de abertura do Festival de Artes Negras Encruzilar, realizado em 31 de outubro, pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em Porto Seguro (BA). O evento teve início com apresentações de quatro jovens artistas negros — Erick Richards, João Vitor Pacheco, Juliana Ribeiro e Sara Almeida —, que deram o tom de celebração, resistência e afirmação de identidades que marcou toda a programação.

A cerimônia de abertura foi permeada por referências simbólicas à ancestralidade afro-brasileira. Um ritual de limpeza com espadas de São Jorge, conduzido por uma mulher que circulou o prédio batendo as folhas no chão, antecedeu a entrada do público, em gesto que simbolizou a purificação e a retomada de um espaço historicamente marcado pela opressão. O local escolhido, a antiga Casa de Câmara e Cadeia, abrigava, no período colonial, tanto a administração pública quanto o cárcere de pessoas escravizadas, e foi ressignificado durante o festival como território de arte, celebração e reexistência.

“É simbólico estarmos aqui em cima, nessa Casa de Câmara e Cadeia. A gente quis celebrar aqui justamente por isso, porque era um lugar que povos pretos não acessavam”, afirmou Sara Almeida, uma das idealizadoras do festival.

Para Juliana Ribeiro, o Encruzilar representa também uma ação crítica e transformadora dentro e fora da universidade: “É um projeto que saiu da universidade, mas que não encontrou problemas diferentes. São os mesmos problemas: as paredes brancas, os quadrados, essas estruturas que a gente vive. Então, vamos ter sempre que estar fazendo a nossa roda, se enfiando, quebrando essas paredes, porque, se a gente perceber, cada grupo aqui cria uma nova parede do que realmente, para a gente, é o mundo.”

O artista João Vitor Pacheco ressaltou o caráter afirmativo e intelectual do festival “A gente é potência intelectual, a gente é potência artística, a gente é potência em tudo que se propõe a fazer. A gente tem que ser inteligente. E isso daqui, velho, é muito inteligente.”

Mais do que uma mostra artística, o Festival de Artes Negras Encruzilar se afirma como um ato político, educativo e espiritual, ao promover a ocupação simbólica de um território antes associado à exclusão racial e à violência, e transformá-lo em espaço de diálogo, memória e reconstrução coletiva de narrativas.

O evento está vinculado a uma ação de extensão da UFSB, sob coordenação do professor Bernard Pego Belisario, e conta com a participação de estudantes do curso de Som, Imagem e Movimento, do Centro de Formação em Artes e Comunicação . O projeto tem como objetivo expor e difundir as diversas formas de manifestação da Arte Negra no Brasil, por meio das artes integradas, com atividades distribuídas por todo o Centro Histórico de Porto Seguro. A programação inclui performances, oficinas, apresentações artísticas, mostra cinematográfica e uma exposição no Museu da Cidade, que permanecerá aberta ao público por duas semanas.

Com acesso gratuito, o festival reúne mais de 60 participantes, entre artistas, colaboradores e voluntários, e contempla diferentes públicos. A proposta abrange tanto a comunidade interna da UFSB — discentes, docentes e técnicos — quanto a comunidade externa, envolvendo crianças, adolescentes, visitantes e moradores de Porto Seguro.

 

Com informações e foto da organização do evento.

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