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Pesquisa publicada em revista internacional explica a função das poças de maré para as populações de peixes recifais

Escrito por Heleno Rocha Nazário | Publicado: Segunda, 30 de Agosto de 2021, 15h52 | Última atualização em Segunda, 30 de Agosto de 2021, 17h27 | Acessos: 2200

P1016464Em mais uma publicação resultante de pesquisas desenvolvidas no litoral do Extremo Sul, um estudo divulgado na revista Marine Ecology apresenta dados sobre o papel das poças de marés para a configuração e renovação dos cardumes de peixes que vivem nos recifes de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália. O artigo Habitat-mediated reef fish assemblages in coral reef tidal pools é assinado por Crislaine Morais dos Santos (PPGSAT/UESC-UFSB), Virginia Santana (PPGSAT/UESC-UFSB), Alice Bastos (PPGSAT/UESC-UFSB), Jessyca Luana Teixeira (PPGCEB/UESC), Mateus Alexander Campeche Gama (bolsista de Iniciação Científica no curso de Oceanologia da UFSB), Sara Buttrose Kennedy (bolsista de Iniciação Científica no curso de Ciências Biológicas da UFSB), Fabiana Cézar Félix-Hackradt (CFCAm/UFSB) e Carlos Werner Hackradt (CFCAm/UFSB).

O paper apresenta dados resultantes da produção de três discentes do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais (PPGSAT - UESC/UFSB) e do trabalho de dois bolsistas de IC da UFSB durante o projeto. Os autores todos estão vinculados ao Laboratório de Ecologia  e Conservação Marinha, o LECOMAR, parte da estrutura laboratorial do Centro de Formação em Ciências Ambientais da UFSB, em Porto Seguro, no qual a professora Fabiana e o professor Carlos pesquisam e lecionam.

O trabalho avalia como a cobertura bentônica, isto é, do leito marinho, e a complexidade estrutural de poças de maré afetaram a assembleia de peixes em termos temporais e espaciais. Essa questão importa pelo fato de que as poças de marés são consideradas habitats estressores, sob constante pressão por diversos fatores ambientais e pela ação humana, ao mesmo tempo em que servem como berçários para algumas espécies e moradia permanente para outras, tendo papel relevante para a reprodução e renovação dos cardumes nos ecossistemas marinhos.

 

Procedimentos e Resultados

P1016913A pesquisa foi realizada em três recifes de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, no extremo sul da Bahia, no período de 17 meses entre fevereiro de 2016 e julho de 2017, excetuando outubro de 2016 por motivos climáticos. As amostras mensais foram colhidas nas marés baixas por três dias consecutivos, considerando 10 poças aleatoriamente amostradas em cada um dos recifes. Além do censo visual para identificação e contagem de peixes, imagens do fundo (fotoquadrados)das poças foram coletadas para permitir uma estimativa da morfometria, da composição do fundo da poça. Todos os pontos de coleta foram localizados via GPS para mapeamento e mensuração da distância do ponto em relação à ponta do recife, mais próxima do mar. Os dados coletados foram então analisados com uso de softwares especializados e técnicas de análise computacional.

Os procedimentos, acima descritos de forma simplificada, permitiram identificar as espécies de peixes, saber quais delas vivem naquele habitat estressante de forma permanente ou provisória, de acordo com a cobertura existente no fundo, a profundidade e a distância da poça de maré em relação à borda mais próxima do mar. Essas informações ajudam a entender o papel desses espaços na composição de assembleias de peixes "Encontramos uma grande abundância e diversidade de peixes em poças dominadas pela cobertura de corais nos meses mais quentes do ano. Entretanto o volume total da poça, sua posição no recife (distancia da borda) e a complexidade do habitat foram os fatores que mais afetaram na estrutura das assembleias de peixes presentes nestes locais", explica o professor Carlos Werner Hackradt, um dos autores do artigo e também um dos orientadores das pesquisas cujos resultados são apresentados.

P1016467Este trabalho ajuda a entender os efeitos das variáveis do habitat sobre comunidades de organismos que vivem em locais altamente estressados pela dessecação, aumento de temperatura e salinidade, como são as poças de maré, e, que sofrem diretamente com impactos antrópicos, tais como a presença de visitantes e a poluição. "Estes ambientes rasos são fundamentais para o início do ciclo de vida de diversas espécies de peixes, como fica patente no artigo, portanto entender os efeitos naturais e antrópicos sobre estes habitats pode garantir formas de gestão e manejo adequados para sua manutenção e exploração sustentável", conclui o professor Carlos.

O tipo de levantamento realizado já foi feito em diversas localidades, no Brasil e no Mundo, explica o pesquisador. "Para a costa sul da Bahia existem trabalhos parecidos realizados para o Parque Natural Marinho do Recife de Fora, ainda que as poças do recife de fora são bem maiores que as encontradas na área de estudo". O professor Carlos afirma que a maioria das espécies encontradas nas poças de maré pelos pesquisadores são animais juvenis, ainda filhotes, o que demonstra a importância destes habitats como berçários da vida marinha. "Espécies como o badejo, vermelhos e garoupas podem ser encontradas nestas poças de maré nessa fase de vida. Nesta fase ainda não há exploração econômica destes animais, porém eles são a base para manter as populações adultas nos estoques pesqueiros viáveis", diz.

 

Habitat que precisa de conservação

Na seção de discussão dos resultados, os autores destacam a pouca proteção às áreas de recifes rasos, incluindo os poços de marés. "Pouca e praticamente nenhuma", comenta o professor Carlos Hackradt: "em geral, os níveis de proteção de recifes na linha de preamar (entre a maré alta e baixa) têm níveis muito baixos de proteção". Para ele, a instituição de medidas protetivas oferecidas pelas Unidades de Conservação de Proteção Integral são mandatórias para minimizar os impactos da ação humana nestes locais, como o turismo desordenado, a coleta de animais para aquariofilia, a poluição, com consequente perda e destruição do habitat.


Os prejuízos são relevantes. "Certamente a perda de habitat (destruição/remoção do recife ou perda da cobertura coralínea) é o impacto mais agudo sobre estes ambientes. A perda ou destruição do habitat leva à eliminação imediata das espécies locais e consequentemente à perda daquele ecossistema e à impossibilidade desse processo poder ser restaurado ou recuperado. Entretanto, ele é mais raro de ocorrer", avalia o professor Carlos. "Porém, os impactos crônicos sobre as poças de marés, como a poluição e as mudanças climáticas, vão causando uma séŕie de pequenas mudanças estruturais nas comunidades de organismos que vivem neste habitat, que já é um ecossistema de elevado estresse, vista a variação de temperatura, salinidade e umidade ao longo do dia, que podem comprometer a médio e logo prazo o funcionamento deste ecossistema", diz o cientista, para quem a conservação e o manejo destes ecossistemas pode inclusive ampliar e melhorar a qualidade de vida local como um atrativo turístico da região.

 

Preparo de novos profissionais

P1016863Ao relatar a situação detectada na área de recifes de Coroa Vermelha, o artigo reuniu contribuições de diferentes pesquisas, de pós-graduação e de iniciação científica. O professor Carlos Hackradt conta que o estudo foi desenvolvido pela ação e contribuição de três mestrandos (PPGSAT) que desenvolveram suas dissertações nos seguintes temas: a avaliação da estrutura das assembleias de peixes nas poças de maré; a constituição estrutural das poças e sua relação com a comunidade bentônica que vive nestas poças; e a relação entre os peixes e a estrutura betônica das poças. "Nesses percursos, alunos de graduação do laboratório, na época bolsistas de IC, aproveitaram o desenvolvimento desta pesquisa e contribuíram desenvolvendo seus projetos de IC junto aos mestrandos", explica o professor.

O professor Carlos Hackradt destaca que, além da importância regional pelo aporte de novas informações sobre o funcionamento dos sistemas recifais do extremo sul da Bahia, o artigo também indica um efeito direto da UFSB na formação de pessoal como pesquisadores especializados e atentos ao contexto da região: "Esse trabalho mostra a importância dos recifes de corais para o sul da Bahia, os recifes de corais daqui movimentam um industria turística que é o principal atrativo de cidades como Porto Seguro e Caravelas. São, no final das contas, os atrativos turísticos ambientais que trazem milhares de turistas todos os anos para visitar e conhecer as praias paradisíacas de sul da Bahia e os recifes de Abrolhos. Formar profissionais capacitados para entender, avaliar e promover a conservação desses ambientes é fundamental para o desenvolvimento da região de forma sustentável". 

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