Pesquisadores propõem investimento em P&D para desenvolver a silvicultura de espécies nativas
O investimento em estudos para estimular e orientar a produção de espécies tropicais de árvores do Brasil pode consolidar perspectivas de lucros e de conservação de florestas nativas. O working paper Prioridades e Lacunas de Pesquisa & Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas no Brasil (Research Gaps and Priorities in Sillviculture of Native Species in Brazil), publicado pelo escritório brasileiro da World Resources Initiative (WRI Brasil) listou as lacunas no conhecimento científico a respeito de espécies nativas que possuam valor comercial, definiu prioridades de curto, médio e longo prazos para um programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D), calculou os valores a investir e os retornos sobre o investimento na pesquisa em quatro cenários. Os cientistas Alan Batista, Miguel Calmon, Samir Gonçalves Rolim, Fátima C. M. Piña-Rodrigues, Miguel Luiz Menezes Freitas, Silvio Brienza Junior, Maria José Brito Zakia e Daniel Piotto, professor e pesquisador do Centro de Formação em Ciências Agroflorestais (CFCAF) da Universidade Federal do Sul da Bahia, assinam o estudo.
A criação de um programa específico de pesquisa e desenvolvimento como impulsionador da silvicultura de espécies nativas com valor comercial atende a diversos objetivos. Um deles é relacionado ao Acordo de Paris, no qual o Brasil se comprometeu a recuperar 12 milhões de hectares de área florestal até 2030, dentre outros compromissos na Contribuição Nacionalmente Determinada. Com a produção organizada de árvores para atendimento da demanda de madeira tropical, os produtores envolvidos colaborariam para a retirada de carbono da atmosfera, a recuperação de áreas degradadas por outras atividades econômicas e a conservação de matas nativas na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica.
Mogno é uma das espécies nativas pré-selecionadas no working paper
(Foto:Cláudio Pontes/WRI Brasil)
Associado aos ganhos ambientais e políticos com a preservação está o potencial da atividade econômica. Um dos quatro cenários projetados pelos cientistas estima um retorno de US$ 2,36 dólares para cada dólar investido em P&D em um período de 20 anos. A demanda por recursos é relativamente baixa para a instalação de uma plataforma de P&D de Silvicultura de espécies nativas: entre US$ 3,79 milhões a US$ 7,30 milhões, representando menos de 0,05% do orçamento brasileiro destinado à pesquisa. Uma área de plantio de 10 mil hectares já justifica o investimento e representa, igualmente, fração pequena do território nacional.
O professor Daniel Piotto afirma que reduzir o desmatamento e reflorestar, com eucalipto ou nativas, é atualmente a maneira mais efetiva e competitiva, em termos de custo, de mitigar o aquecimento global. Investir na silvicultura de espécies nativas é estratégico: "Os reflorestamentos podem ter diversas finalidades e o plantio de eucalipto e pinus foca prioritariamente na produção de papel e celulose. Por outro lado, o mercado de madeira sólida no Brasil é abastecido de madeiras da Amazônia, sendo boa parte do volume oriundo de fontes ilegais. Ademais, o cenário de consumo de madeira aponta para a escassez de madeira oriunda de florestas naturais e a tendência de aumento de preço nos próximos 50 anos. Essa crítica situação leva a necessidade urgente de iniciar programas massivos de reflorestamento com espécies nativas que irão atender a demanda atual e futura de madeira sólida e melhorar as práticas de produção e comercialização de madeira no Brasil".
A plataforma de P&D proposta no working paper está em desenvolvimento pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e facilitada pelo WRI Brasil. A intenção é que a plataforma possa captar recursos públicos e privados e direcioná-los para uma pesquisa pré-competitiva, dedicada a resolver as carências de conhecimento sobre espécies com potencial madeireiro e não-madeireiro, como formas de multiplicação, plantio e manejo, dentre outras demandas. 30 espécies de árvores da Amazônia e da Mata Atlântica, com algumas dessas também ocorrendo no Cerrado, foram pré-selecionadas por serem consideradas promissoras, como a araucária, a andiroba, o ipê-amarelo e o mogno.
O investimento em P&D para a silvicultura de espécies nativas ajudará a fortalecer esse setor com conhecimento científico e técnico, a exemplo do que já foi feito com espécies exóticas, como o eucalipto e o pinus. Uma vez que as lacunas de conhecimento sejam preenchidas e que a produção de espécies nativas esteja em condições de competição no mercado, as pesquisas posteriores passariam a ser feitas pelas empresas do setor.
O estudo (em inglês) está disponível gratuitamente para consulta no site da WRI Brasil.
Notícias relacionadas
Com informações de WRI Brasil e Site Amazônia Notícia e Informação
Foto: Cláudio Pontes/WRI Brasil
Redes Sociais