Artigo em evento internacional apresenta a experiência da 1ª Olimpíada de Sustentabilidade do Sul da Bahia
Se o Brasil precisa de mais pessoas capacitadas nas áreas das ciências, mostrar o potencial da área das Engenharias a estudantes da educação básica é uma das várias formas de estimular esse interesse pelo conhecimento sistematizado e especializado. O projeto “I Olimpíada da Sustentabilidade do Sul da Bahia”, realizado no Campus Jorge Amado da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em Itabuna, buscou estabelecer o contato com esse público. Os resultados foram apresentados no XLVII Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia e no III Simpósio Internacional de Educação em Engenharia da Associação Brasileira de Ensino em Engenharia (ABENGE), ocorridos entre os dias 01 e 03 de dezembro de 2020.
A iniciativa foi realizada em junho de 2018 e contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) através do Edital FAPESB n° 05/2016, do Programa de Popularização da Ciência e Tecnologia: Olimpíadas de Ciências. A coordenação do projeto ficou a cargo do professor Marcelo Soares Teles Santos, do Centro de Formação em Tecnociências e Inovação (CFTCI) da UFSB, que contou à editoria UFSB Ciência sobre os resultados e os próximos passos pensados para Olimpíada.
A Casa Sustentável, instalada no Campus Jorge Amado em 2017, contou com a participação de estudantes em um ciclo de oficinas. Três exemplos nas fotos, em sentido horário a partir da esquerda no alto: Arquitetura Sustentável; Agricultura Familiar e Energias Alternativas (Acervo Pessoal do professor Marcelo Soares Teles Santos)
Interesse despertado pela prática
O plano da Olimpíada da Sustentabilidade teve como objetivo geral estimular estudantes do ensino básico da região Sul da Bahia ao estudo de Ciências usando atividades práticas ligadas ao tema da sustentabilidade, conceito que une sentidos ambientais, econômicos e sociais. O tema é ao mesmo tempo interdisciplinar, pela relevância da contribuição de diferentes áreas de conhecimento para definição e resolução de problemas, e de alta importância para a região, cheia de desafios que envolvem ambiente, economia e sociedade.
Ao todo, a Olimpíada teve três grandes etapas. A primeira foi a avaliação teórica nas escolas, que serviu para selecionar estudantes e formar as equipes de cada escola para participação nas fases presenciais na UFSB. Dessa fase participaram dez escolas da região, cinco do Ensino Fundamental e cinco do Ensino Médio, localizadas nos municípios da Rede de Colégios Universitários Anísio Teixeira (Rede CUNI) de Itabuna, Ilhéus, Ibicaraí e Coaraci, e um total de 312 estudantes foram avaliados. Desse público foram selecionados 50 alunos, que formaram as equipes de cinco estudantes das dez escolas participantes. Dessas equipes, finalmente, foram escolhidos os 25 integrantes das cinco equipes finalistas da Olimpíada, que participaram das outras duas fases, ambas presenciais no campus da universidade em Itabuna.
A segunda etapa consistiu em uma atividade experimental na universidade, na qual os estudantes conheceram práticas e tecnologias presentes em uma “Casa Sustentável”. A atividade contou com duas subfases: a visita propriamente dita e uma avaliação de conhecimentos em Ciências, na qual as soluções funcionais da instalação serviram como contexto para a criação e as respostas sobre conceitos de Biologia, Física e Química.
As atividades durante a Olimpíada incluíram exposições, oficinas e gincana. Tudo para unir conceitos e ideias ao aprendizado prático. A partir da esquerda, em sentido horário: Energia Solar e Eólica; Composteira e Biodigestor; Gestão de Resíduos Sólidos (Acervo Pessoal professor Marcelo Soares Teles Santos).
O professor Marcelo conta que a casa foi preparada durante o Ciclo de Oficinas de Implantação da Casa Inteligente de Práticas Sustentáveis da UFSB, realizado no Campus Jorge Amado entre os meses março e maio de 2017. A atividade reuniu 150 estudantes da UFSB e de outras instituições de Ensino Superior da região para adaptar “espaços e processos de uma casa convencional com a inserção de práticas e tecnologias relacionadas à gestão sustentável de água, energia, resíduos e produção de alimentos”. A instalação foi equipada com biodigestor e sistemas de coleta de água de chuva, energia solar, energia eólica residencial, bem como horta orgânica e toldo para separação de materiais da coleta seletiva. O projeto da Casa Sustentável teve seus resultados divulgados na edição de 2017 do Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia da ABENGE.
Gincana, colaboração e aprendizado
Para completar a Olimpíada, a terceira etapa contou com três momentos: uma capacitação ambiental, uma dinâmica de grupo e uma gincana colaborativa. A capacitação ambiental foi realizada por meio de palestras que abordaram, especialmente, temas como poluição ambiental e as formas de identificação e soluções técnicas para o problema. Já a dinâmica de grupo buscou aproximar os estudantes e criar um ambiente de harmonia e diversão, assim como estimular e mostrar a importância do ambiente colaborativo e do trabalho em equipe pela preservação do meio ambiente e da recuperação das áreas poluídas para a sustentabilidade do planeta. A ideia é favorecer, “como consequência, a utopia de despertar os estudantes como cidadãos coletivos mais ativos socialmente e capazes de criar soluções sustentáveis coletivas para sua comunidade, bairro ou mesmo para a casa de sua família”, observa o professor Marcelo.
A gincana foi organizada em “missões” que consistiram em localizar e propor soluções para problemas simulados de poluição ambiental localizadas no Campus. Cada fase teve uma pontuação variando de 0 a 100 pontos, a partir de critérios definidos previamente em função das atividades programadas. As equipes foram avaliadas conforme a pontuação obtida nas fases presenciais da Olimpíada, com classificação ouro, prata e bronze para as equipes que tiverem os três maiores somatórios das notas, respectivamente.
O professor Marcelo destaca que as fases presenciais da Olimpíada permitiram o envolvimento dos estudantes em ambientes de ensino-aprendizagem de ciências baseados em rotinas reais de práticas e tecnologias sustentáveis e o desenvolvimento de habilidades como percepção, conscientização e sensibilização ambiental. “Essa imersão permitiu serem abordados temas importantes para a atualidade, tais como uso racional de água e energia, geração de resíduos sólidos, produção e consumo de alimentos orgânicos, preservação ambiental, entre outros”, avalia o docente.
O professor destaca, ainda, que nessas fases presenciais foram utilizadas metodologias ativas para a consolidação dos aprendizados adquiridos nas fases e nos momentos anteriores. A segunda fase (avaliação experimental) utilizou práticas e tecnologias da sustentabilidade presentes em uma casa sustentável para contextualizar o ensino de ciências; na terceira fase (gincana colaborativa), a dinâmica em grupo utilizou a metodologia de brincadeiras sociais, enquanto a gincana aplicou algumas etapas da estratégia de Aprendizagem Baseada em Problema (ABProb), na qual o problema é utilizado como incentivo ao aprendizado e busca-se uma atmosfera colaborativa para a elaboração do conhecimento.
Futuro da região e de jovens talentos
Para o professor Marcelo, a I Olimpíada de Sustentabilidade do Sul da Bahia contribuiu para identificar jovens talentos no estudo dos conhecimentos científicos e tecnológicos envolvidos no Campo das Ciências, para que possam seguir futuras carreiras científicas e tecnológicas. Ele pondera que as atividades do evento permitiram desenvolver a criatividade, a inventividade e o trabalho em equipe de estudantes e professores, além do despertar de vocações científicas, atendendo o objetivo previsto.
Após palestras sobre sustentabilidade (primeira foto à esq.), cada uma das equipes teve de identificar os problemas ambientais simulados na área do Campus (centro) e depois apresentar suas propostas para os demais participantes (dir.) (Acervo Pessoal professor Marcelo Soares Teles Santos)
Como embasamento da avaliação, ele menciona os principais mecanismos usados: a divulgação e popularização de Ciências e Tecnologia, a avaliação do desempenho dos estudantes das escolas, a mobilização e divulgação científica para os participantes, a capacitação e a sensibilização ambiental dos estudantes, o estímulo do estudo das Ciências, a proposta de melhoria do processo de ensino-aprendizagem do ensino de ciências, e consolidação do Modelo de Sustentabilidade da UFSB.
Em continuidade do esforço de divulgação das Ciências, a Casa Sustentável poderá ser utilizada em visitas orientadas para Educação Ambiental, Ensino de Ciências e Engenharia, divulgação e popularização de ciência e tecnologia e estímulo ao desenvolvimento do setor econômico relacionado com as Tecnologias da Sustentabilidade. Noutra linha de ação, as operações e os monitoramentos da Casa Sustentável permitirão fazer pesquisa, extensão, criação e inovação na área de Sustentabilidade, o que sugere o grande potencial de estreitamento da relação Ensino-Pesquisa-Extensão com a instalação, afirma o professor Marcelo.
Equipe responsável
Além do coordenador, professor Marcelo Soares Teles Santos, o projeto contou com a participação de profissionais da região e docentes, técnico-administrativos e estudantes do CJA: no Ciclo de Oficinas (atividade preparatória para a olimpíada), participaram as professoras Silvia Kimo Costa e Rosane Rodrigues da Costa Pereira, a coordenadora de Sustentabilidade da UFSB na época, Valerie Nicollier, o diretor da empresa Geosolares Energias Renováveis, Jalmiro Rocha Silva Sobrinho, e o assessor técnico da EMASA, Anderson Alves Santos.
Na realização da I Olimpíada da Sustentabilidade, atuaram a professora Júlia Carvalho Dias de Gouvêa e o professor Narcisio Cabral de Araújo, além dos estudantes monitores do Curso de Engenharia Ambiental e da Sustentabilidade Filipe de Oliveira Santana, Nayara Alves Rocha e Fernando Silva dos Santos.
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