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“Quem educa provoca, incomoda, transforma”

  • Publicado: Quinta, 21 de Junho de 2018, 16h52
  • Última atualização em Quinta, 21 de Junho de 2018, 16h53
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Foi com essa fala, da estudante Kaline Gonçalves, do curso de segundo ciclo em Antropologia da UFSB (CSC), que a professora Gladys Marquisio Cilintano comemorou o sucesso do Projeto Paulo Freire no Seminário de Avaliação das atividades, que ocorreu nos dias 15 e 16 de junho de 2018, no Campus Sosígenes Costa.

Além de estudantes e professores(as) da UFSB, estiveram presentes ao evento o Ministro e Conselheiro Edison Torres Camacho e a professora e Diretora de Planificación Educativa, Gladys Marquisio Cilintano, ambos membros do Consejo de Formación en Educación (CFE), do Uruguai.

A professora Gladys Marquisio detalha as particularidades da cultura oficial da Educação no Uruguai, ressaltando o papel do CFE: “o sistema é integrado pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), a Administração Nacional de Educação Pública (ANEP), a Universidad de la República (UdelaR) e outros entes autônomos da educação pública estatal (como a recentemente criada Universidad Tecnológica, UTEC) e é coordenado pela Comissão Coordenadora da Educação Pública. Desse modo, o Ministério de Educação e Cultura funciona como organismo pertencente ao Poder Executivo na articulação de políticas, mas a ANEP permanece autônoma, responsável por elaborar, instrumentalizar e desenvolver as políticas educativas dos diferentes níveis de educação. Dentro da ANEP, o Consejo de Formación en Educación (CFE) é quem conduz as políticas de formação de professores do ensino superior, do ensino básico, da educação infantil, do ensino técnico e educadores sociais. O trabalho é independente em relação ao MEC.”

O conhecimento recíproco das diferenças entre países pode favorecer o incremento de políticas públicas de Educação. Conforme salienta a professora Gladys, “a educação ibero-americana é diversa; mover-se faz bem.” Por isso, é importante “a formação de uma rede de Instituições de Ensino Superior da Ibero-América para valorização social e intelectual da carreira docente no ensino básico, priorizando a educação pública em seus distintos aspectos e dimensões e o compromisso da universidade pública com todas as etapas de formação escolar”, objetivo do Programa de Mobilidade Acadêmica Internacional – Projeto Paulo Freire, conforme texto do Edital.

O professor da UFSB Gustavo Gonçalves (CJA) avalia que esta experiência “tem um grande interesse para a pesquisa, pelo caráter inovador como concebe a mobilidade de estudantes da licenciatura, articulada à mobilidade docentes da educação básica e de professores/pesquisadores universitários formadores de docentes em um mesmo projeto. Ela destaca ainda que ela só foi possível graças a um projeto piloto financiado pela Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) com a Secretaria de Educação Superior do MEC (SESU), no qual o ex-Reitor, professor Naomar Almeida, atuou fortemente. O interesse nesta experiência piloto ocasionou, por exemplo, a vinda de doutoranda em Ciências da Educação da Université du Québec à Montréal (UQAM) Valérie Vinuesa para conhecer de perto a experiência e coletar dados para sua tese”. O trabalho, intitulado “A internalização da educação na formação inicial de professores: estudo multicaso dos dispositivos de formação ligados aos estágio práticos no exterior”, é orientado pelo Professor Patrick Charland.

A pesquisadora, que tem vasta experiência como consultora educacional em projetos de internacionalização, procedeu às etapas da pesquisa com a colaboração do Professor da UFSB Sérgio Cerqueda (CSC) e, no momento, está em fase de análise dos dados coletados. A partir da experiência, avalia que “a abordagem da UFSB é muito inovadora e traz uma nova perspectiva para a internacionalização da formação de professores. É particularmente interessante que este projeto tenha sido criado em um curto período com um grande número de interessados ​​e em uma perspectiva coletiva e multifacetada.”

Gladys Marquisio  lembra que, “quando o projeto chegou ao Uruguai, ao nos convidarem, ficamos impactados com a quantidade: 26 professores e 39 estudantes fariam estágio em nosso país. Todo um desafio. Agora sinto que foi a melhor decisão de minha gestão em 2017: dizer SIM. E digo aos estudantes que é preciso animar-se, encontrar-se, pois a educação é isto: troca, luta, ruptura. Só que é necessário trabalhar com organização e convicção coletiva.”

Estudantes das Licenciaturas Interdisciplinares e da Área Básica de Ingresso (ABI) dos três campi da Universidade, docentes da rede pública estadual e docentes da UFSB foram contemplados(as) com bolsas de estudos durante o período do intercâmbio no Uruguai. Discentes e professores(as) da rede básica foram escolhidos(as) por meio de Processo Seletivo realizado pela Pró-Reitoria de Gestão Acadêmica da UFSB pelos Editais 23 e 24/2017.

“Participar de um projeto pioneiro como este foi de extrema importância para a minha trajetória. Agora, tenho um olhar diferente para a nossa forma de educar, pude perceber em que estamos errando e o que podemos fazer como futuros professores para dar certo”, explica Bianca Cristina de Lima Conceição Purcino, estudante da Licenciatura Interdisciplinar em Ciências da Natureza do Campus Paulo Freire. Ela conta ainda que, “desde o momento da seleção, eu já sabia que aquilo iria mudar a minha vida pessoal e profissional; no entanto, não sabia que mudaria de forma tão positiva. Consegui absorver muita informação, pude perceber muitas questões comuns entre nós, brasileiros, e os uruguaios, mas chamou a atenção como estamos distantes em aspectos relacionados à educação básica, muito mais avançada lá do que aqui.”

O professor Gustavo Gonçalves destaca que o envolvimento simultâneo dos três segmentos já aludidos: professores formadores de docentes, estudantes de licenciatura e professores da educação básica, no mesmo projeto, potencializa seu efeito, ao criar, entre eles, já no seu retorno à Bahia, reverberações que potencializam, no território, e nas instituições formadoras, os valores e reflexões que a experiência propicia. O professor avalia que o Projeto constitui um marco inicial importante para a política de internacionalização da UFSB. Ao contemplar uma quantidade significativa de estudantes, o Projeto foi um passo na direção da popularização e democratização desse tipo de experiência.

Cristiane Silva de Meireles Cardoso, professora da rede pública estadual de ensino no Complexo Integrado de Educação (CIE) de Itamaraju e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER) da UFSB, participou do Projeto e sintetiza a experiência na palavra “integração”. Para ela, “a integração universidade-formação docente e educação básica legitima a nossa prática junto aos colegas professores, aos alunos, a toda a comunidade escolar. Existem leis, no Brasil, diretrizes e parâmetros curriculares, orientações que direcionam para uma ação inovadora, mas que muitas vezes causam estranhezas, nos incapacitando, nos prendendo. A integração universidade-escola quebra isso, pois o Projeto da UFSB nos aperfeiçoa, nos incita, nos legitima.”

De modo geral, em termos de avaliação do Projeto, o professor Gustavo Gonçalves assinala que, “embora o foco na preparação dos alunos e professores a princípio fosse o intercâmbio de experiência na área de ensino, observou-se que os aportes e as reflexões mais intensas são sobre fundamentos da educação, por exemplo, sobre o papel e as características da escola, a profissão docente e as diferentes características que podem assumir de acordo com o contexto nacional, o papel da escola na construção de um projeto de sociedade, a relação entre Estado e Educação e reflexões gerais sobre avaliação, financiamento e currículo.”

Quanto ao Seminário de Avaliação, a professora Gladys Marquisio comenta: “Foi muito emocionante. Encontrei-me com educadores latino-americanos jovens, emancipados, que querem transformar a educação. Me senti muito orgulhosa de ser mulher, uruguaia, docente e ter colaborado um pouco para sua formação a partir de minha posição como Diretora de Planificación Educativa. Paulo Freire falava da perfectibilidade do ser humano. A mobilidade acadêmica é isso: torna possível que o sujeito, em sua busca pela perfectibilidade, se encontre com a alteridade, se mire no espelho do outro, aprenda com ele e construa cultura e cidadania para além das fronteiras. Na América Latina, precisamos reconstruir nossos discursos pedagógicos e as novas gerações nos estão ensinando como. São nossos melhores mestres, esses jovens.”

 

Fotos: Arquivo pessoal - estudantes

 

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